A cultura do reconhecimento vem de tempos imemoriais, mundo afora, muito praticada ou exercida em larga escala em nossos dias por meio de diplomas, certificados, medalhas, placas, troféus e comendas.
Tais galardões ou prêmios são atribuídos como reconhecimento a serviços relevantes prestados à nação, à sociedade, a uma instituição, a uma entidade qualquer, formalmente organizada, criada. Então, o reconhecimento significa agradecimento, gratidão, prêmio, mérito, em virtude de vitória alcançada, triunfo em competições esportivas, jogos, torneios, em desempenho em trabalho. E por aí vai.
O assunto aqui tratado surgiu logo após a leitura do curtíssimo conto “Medalhas”, no qual Carlos Drummond de Andrade, em seu livro Contos Plausíveis, à página 91, comenta: “Ele possuía grande coleção de medalhas, todas obtidas por merecimento. Havia as de curso primário, curso médio, as de universidade, as de natação, as de fidelidade partidária. Ganhara medalha por ato de bravura e por assiduidade ao serviço. Medalha de literatura e medalha de pintor-de-domingo. Muitas medalhas.”
Há poucos dias, a propósito, mexendo em meus arquivos e gavetas, descobri que, modestamente, também possuo uma porção de medalhas, placas comemorativas, troféus, certificados e comendas, como fazia o personagem do escritor, contista e consagrado poeta mineiro.
Lendo o que se acha escrito em cada galardão recebido, andei dando saudosa volta ao passado, recordando cada momento significativo, vivido em ambientes festivos, literários, esportivos. Em cada um dele havia uma história, uma grata lembrança, uma boa recordação. Cada reconhecimento mexeu com o ego do vivente santanense, metido a cronista, a escritor, carregando nas costas 14 livros publicados e centenas de crônicas, exaltando Santana do Ipanema, contando sua história, história de sua gente, de tipos populares, folclóricos, de seus valores, de suas ansiedades e aspirações.
Como momentos significativos, citaria, por exemplo, o da conclusão do meu curso de Direito, recebendo, festivamente, o canudinho no iluminado salão histórico do Teatro Deodoro, em 1980; o prêmio literário recebido em 1976, na sala de redação do Jornal de Alagoas, das mãos de Aurélio Buarque de Holanda, acompanhado do abraço do dicionarista alagoano; o prêmio de crônica do ano, recebido em 1976, em solenidade realizada no salão do Clube Fênix Alagoana, do jornalista Genésio de Carvalho, então presidente da Associação Alagoana de Imprensa; em 2015, o laurel outorgado pela Real Academia de Letras de Porto Alegre, com a generosa dedicatória “por seu talento e alta sensibilidade literária”; e, finalmente, com muita honra, recebi em 2018 a especial comenda “Breno Accioly”, outorgada pela Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes, da qual sou, orgulhosamente, membro efetivo e um dos seus fundadores.
Sou muitíssimo grato às entidades que me honraram com belíssimas medalhas, placas comemorativas, certificados, troféus e comendas. Agora e sem razão maior, deu-me o trabalho de contar: medalhas (10), placas (12) e comendas (8). Guardo tudo isso com o devido cuidado e carinho.
Quanto ao assunto comenda, disse Waldemar Baroni, heraldista paulista: “Geralmente era algo valioso, como título de propriedade de uma terra. Como o passar dos séculos, seu valor tornou-se simbólico, representado por diplomas ou medalhas.” A comenda, hoje título honorífico, de origem na Idade Média, foi extinta no século XIX (em Portugal, em 1834), por conta das ideias e doutrinas do Liberalismo então bastante difundidas na Europa. Comendador era um cavaleiro de Ordem religiosa e militar, nomeado para cuidar e gerir uma comenda (conjunto de bens, terras, castelo).
Entre tantas medalhas, placas comemorativas, troféus, comendas, diplomas, certificados, guardo a sete chaves – porque histórica – uma pequena placa metálica com letras cursivas bem-trabalhadas, gravadas em cobre e estanho, ainda com brilho. Trata-se da plaquinha por mim recebida em 12/10/1958, por ter sido vencedor do Torneio do 1º Aniversário do Clube Santanense de Xadrez. Clube do “esporte, ciência e arte”, infelizmente extinto em nossa cidade, faz muito tempo.
Voltando ao conto de Drummond, entre as medalhas do seu personagem havia a do “silêncio, conquistada por haver mantido discrição num caso de segurança nacional. Seu depoimento salvaria um inocente, mas, fiel a seus princípios, não quis pôr em cheque os altos interesses do Estado.” O fato deixava-o triste. Antes da morte, jogou fora todas as ditas medalhas.
De minha parte, afinal, e como não tenho delas segredo a revelar, continuarão guardadas todas as minhas medalhas, com o merecido respeito, carinho e orgulho.
Maceió, novembro de 2021.
Comentários