LEMBRANÇAS DE VIAGENS

Djalma Carvalho

Diversas vezes tenho dito que viajar, como turista, é exercício salutar, fascinante, utilizando dias de férias ou gozando a folgada vida de aposentado. Claro, sem nenhuma preocupação com trabalho, horários, desempenho profissional aferido periodicamente, além do estafante cumprimento de metas sempre exigidas pelas empresas.
Livres como os pássaros dos céus, então vamos viajar, vamos fazer turismo. Aproveitemos os bons tempos, as boas oportunidades que nos oferece a vida. Usemos, entusiasticamente, palavras do moçambicano Mia Couto (Terra Sonâmbula, Companhia de Bolso, São Paulo, 2015, p.131), que disse: “Afinal, em meio da vida sempre se faz a inexistente conta: temos mais ontens ou mais manhãs?”
Como viajante pelo mundo afora, também tenho minhas particulares manias, sem falar da busca pelo conhecimento da história, cultura e costumes do lugar ou de cada país visitado.
A boa lembrança será sempre o que ficou de bom do que passou. Familiarizando, personalizando, o beijo, o abraço, o flerte, o idílio, o doce sorriso serão boas lembranças, inesquecíveis recordações do ontem, que fazem bem à vida hoje, e farão muitíssimo mais no amanhã de cada vivente, com certeza.
Lembrança, presente, brinde, suvenir, tudo tem mais ou menos o mesmo significado para o turista, uma sinonímia de embaraçar o curioso leitor que nada tem a ver ou nunca se preocupou com estudo de linguagem. Cada vocábulo citado deve ter, para o viajante, o traço, o modelo, o significado característico ou algo representativo do lugar visitado.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a miniatura do suvenir mostrará, necessariamente, não o malandro carioca (o “mulato inzoneiro”, o bamboleio e gingar do samba da “moreninha sestrosa”, no dizer de Ary Barroso), mas o casal carnavalesco, o sambista em artísticos volteios com sua dama em sensuais requebros, com pouca roupa, brilhando na avenida, no Sambódromo, em meio a aplausos do público; no Recife, a garota em passo de frevo, com mínima fantasia, sapatilha e pequena sombrinha, entortando e trocando pernas pra lá e pra cá, representará alegoricamente seu alegre carnaval de frevo, de memoráveis marchas e do folclórico maracatu pernambucano.
Indo-se a Buenos Aires, o turista encontrará o suvenir representativo do tango ao longo da calçada da Rua Florida ou em esquina qualquer da capital portenha. Em Paris, a capital francesa será eternamente lembrada pela Torre Eiffel que se sobressai, grandiosa, no cenário parisiense, ou pelo histórico Arco do Triunfo da Champs-Elysées. Em Espanha, em cada cidade, o turista encontrará o toureiro em miniatura ou estampado em camisas, bonés, lenços e cachecóis diversos.
E vai por aí.
Em Portugal, além das pequenas lembranças religiosas da cidade de Fátima, muito frequentada por católicos do mundo inteiro, o turista será levado a adquirir o Galo de Barcelos, símbolo de Portugal, cuja figura estará reproduzida em tudo que o visitante imaginar. Trata-se de lembrança inspirada na lenda portuguesa, segunda a qual um peregrino galego fora acusado na cidade de Barcelos, em tempos idos e injustamente, de roubar uma valiosa jóia e, por isso, condenado à morte. Inocente, pedira ao juiz, que almoçava um galeto, que o salvasse da forca, garantindo ao magistrado que aquele galeto se poria em pé e cantaria em sua mesa, no ato da sua execução. O galeto cantou e o juiz, aflito, chegou a tempo de salvar o peregrino na fatal hora do cadafalso.
Além de um sininho com o Galo de Barcelos, tenho muitos outros sininhos de metal, com logomarca ou brasão de cada lugar ou país visitado, que enfeitam minha estante de livros.
Estranho e curiosamente, também guardo com carinho pequenos sabonetes, como lembrança, recolhidos de hotéis pelo mundo afora. Em cada tablete, a fragrância, o perfume, a saudade de cada lugar, de cada país. De Lisboa, Londres, Barcelona, Montevidéu, Santiago, Viena, Praga, Budapeste, Paris, Roma.
Hoje, infelizmente, encontro pequena quantidade deles na gaveta, porque foram usados, quase todos, durante a infernal pandemia que assustou e ainda assusta o mundo, que me prendeu em casa por mais de um ano, praticando, cuidadosamente, o chamado isolamento social.
Maceió, fevereiro de 2022.

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