FALECEU EMANOEL FAY

Djalma Carvalho

Em 2 de setembro de 2005, desembarquei em Lisboa acompanhado de Jucá Santos e esposa, Teomirtes Malta, Jandira Torreiro Carvalho e Decele Mata, por conta do chamado II Voo Cultural Alagoas-Portugal, organizado pelo ilustre intelectual e juiz aposentado, Dr. Emanoel Fay da Mata Fonseca, que também acompanhou o grupo.
Em Lisboa, logo à tarde, conforme programação do evento cultural, o grupo foi recebido na suntuosa sede da Ordem dos Médicos de Portugal pelos diretores da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos – Sopeam.
A rápida solenidade foi presidida pelo escritor-médico Dr. Luís Lourenço, com discursos e troca de livros entre anfitriões e visitantes. Em resposta à gentil recepção portuguesa, Dr. Emanoel Fay pronunciou brilhante discurso, encerrando-o com a declamação do seu poema “Dois de Fevereiro”.
A excursão a Portugal alcançou o esperado sucesso. Além de Lisboa, o grupo visitou Fátima, Aveiro, Coimbra, Porto, Póvoa do Varzin, Viseu e Santiago de Compostela. Em Aveiro, o grupo visitou sua moderna universidade; na biblioteca de Coimbra e na de Póvoa do Varzin foram deixados livros autografados. Em visita a bibliotecas, museus e igrejas históricas, o grupo teve a sua frente Dr. Fay, como espécie de cicerone, porque ele já conhecia Portugal de viagens anteriores.
Há pouco, com profundo pesar, soube do falecimento do Dr. Emanoel Fay. A triste notícia me foi dada pelo ator Chico de Assis.
Conheci Dr. Fay nos idos de 1969 ou 1970, por aí. Por essa época ele pertencia ao Lions Clube de Palmeira dos Índios, como associado. A partir daí, acompanhava-o pela leitura dos seus escritos publicados em jornais de Alagoas. Admirava seus brilhantes discursos em solenidades várias.
Um cumprimento aqui, outro acolá. Depois, reencontramo-nos na Academia Maceioense de Letras, como consócios, como membros efetivos. Tornamo-nos amigos mais aproximados, de boas conversas. A viagem a Portugal ajudou a consolidar essa sadia amizade e a reafirmar minha condição de seu velho admirador.
Homem culto, inteligente, poeta, jornalista, escritor, músico, compositor, ator. Católico fervoroso, de firmes convicções religiosas. Com efeito, nele fé e razão caminhavam “pari passu” na dupla relação concebida por Santo Agostinho, o santo doutor da Igreja Católica, que sentenciava: “É necessário compreender para crer e crer para compreender.”
Dedicado à família, às letras, à cultura de Alagoas.
É de sua autoria a frase: “Os poetas, as cigarras e os pássaros dos céus nasceram para cantar as maravilhas da existência humana e do universo.”
Disse Mário Quintana, poeta gaúcho: “Um belo poema sempre nos leva a Deus.”
Em 2007, participamos da solenidade de lançamento e noite de autógrafos de livros em Santana do Ipanema. Eu, com o livro Chuva no Telhado (crônicas). Ele, com o livro Do Monte Alto à Mensagem Eterna (crônica de viagem à Terra Santa). Fiz a apresentação do seu livro. Ele encarregou-se da apresentação do meu.
Ao final do seu discurso, pedi-lhe que declamasse “Dois de Fevereiro”, expressão maior de sua obra poética. Aceitou de pronto, pedindo licença ao presidente da mesa para tirar paletó e gravata, antes da declamação.
Acostumado, com humildade, ao aplauso que emociona, comove, incentiva, Dr. Fay foi aplaudido de pé pela plateia que então lotava o salão principal do Tênis Clube Santanense.
Que pena! Meus amigos vão caindo, um a um, desaparecendo sem razão plausível em direção à vida eterna, encerrando o ciclo fatal, concepção, nascimento, vida e morte. Com o falecimento do Dr. Emanoel Fay da Mata Fonseca a cultura e a inteligência de Alagoas perdem uma excelente figura humana. Alagoas, consternada, fica mais pobre.
Maceió, março de 2019.

Comentários