Em momentos de disponibilidade e de inspiração literária, não sei enquadrar-me, situar-me, se de fato me ocorre algum sintoma de esquisitice ou doidice mesmo, quando estou a escrever minhas crônicas, minhas pequenas histórias do cotidiano. Pode ser apenas mania.
Concluído o texto de uma crônica, surge-me novo mote, seguido imediatamente àquele, como a satisfazer a mania de escritor que adquiri, sem nenhuma obrigação de ofício de qualquer espécie. Apenas prazeroso e diletante passatempo, sempre preocupado em exaltar e praticar o bom humor, o pitoresco, o engraçado, afinal as coisas boas que alegram o espírito dos leitores.
Dessa forma, também vou por aí a caminhar pela longa estrada das reminiscências, das relembranças.
Outro dia, Jonas Pacífico Filho, santanense apaixonado por sua terra natal, comunicou-me o falecimento de Francisco Simões Almeida, idoso com a idade de mais de 90 anos, ocorrido no Rio de Janeiro em 22 de junho passado. Simões, assim conhecido, era casado com Maria Luíza Pereira (Dudu), tia do nosso querido Joninhas.
A lamentável notícia fez-me lembrar do encontro que eu tivera com Simões em 1967, em Santana do Ipanema, à porta de Dona Clemência Pereira, sogra do desaparecido santanense por adoção. O gentil e simpático amigo, de boa conversa, achava-se aposentado àquela época, depois de conhecer o Brasil e o mundo, pilotando avião. Fora comandante da Panair do Brasil, principal companhia aérea brasileira que funcionou de 1930 a 1950, cujas operações se encerraram em 1965, logo no início da ditadura militar. Simões, acompanhado da esposa e filhos, costumava visitar Santana do Ipanema em julho de cada ano, para assistir à festa da padroeira da cidade e rever familiares e amigos.
Naquele mesmo ano, 1967, eu havia sido aprovado no exame para motorista amador, evento bastante concorrido realizado em Santana do Ipanema com a presença do diretor do Detran – um coronel da Polícia Militar de Alagoas –, acompanhado de outras autoridades, além de políticos.
Orgulhoso, mostrei a Simões minha carteira de habilitação expedida em 19/4/1967. Vendo meu entusiasmo de novato motorista, de calouro à direção de automóvel, advertiu-me, em forma de providencial conselho: “Cuidado nas ultrapassagens, motivo de muitos acidentes nas rodovias brasileiras.”
Diga-se que esses eventos de exames de motoristas realizados em Santana do Ipanema, naquela época, mais pareciam acontecimentos festivos, de muita movimentação de candidatos, oriundos de várias cidades de Alagoas, sobretudo da região sertaneja.
Hermínio Tenório Barros, conhecido por Moreninho, antigo farmacêutico que prestou inúmeros serviços de saúde à população santanense desde 1934, data em que ainda não existiam médicos em Santana do Ipanema. Por esse trabalho prestado durante muitos anos, Moreninho, por uma questão de gratidão e justiça, merece ter seu nome dado a uma rua da cidade. Em crônicas publicadas, por duas vezes fiz esta sugestão à municipalidade santanense, sem sucesso, infelizmente.
Às gargalhadas, contou-nos Moreninho, certa vez ao balcão do Banco do Brasil, o insucesso que tivera ele como candidato a motorista em um desses festivos exames na cidade. Não fora aprovado a partir dos quesitos sobre sinalização e função de aparelhos de veículos motorizados.
Não soube responder às perguntas, não especificando cada função do equipamento ou aparelho. Quanto ao mais, a tudo respondeu com firmeza. Por exemplo: função do radiador – “radiar”; função da transmissão – “claro, transmitir”; mais uma pergunta: função do carburador – “carburar”.
Pronto, ficou por aí mesmo, e foi reprovado.
Maceió, agosto de 2021.
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