ALIMENTANDO PASSARINHOS

Djalma Carvalho

Nesta primavera e início de verão, o espaço gramado com as laterais cobertas de roseiras, daqui de casa, costuma receber a visita diária de inúmeros pássaros de pequeno porte que habitam a área verde que circunda o Condomínio Aldebaran, em Maceió. Entre eles, destacam-se rola-caldo-de-feijão, bem-te-vi, fogo-pagou, rolinha comum, canário-da-terra, beija-flor, jesus-meu-deus, lavandeira, pardal e até o pequenino sebite ou caga-sebo.
É uma festa de canto variado desses pássaros ao sinal deflagrador da aurora tropical, acompanhada do canto madrugador dos espertos galos da vizinhança. Tudo lembra a tranquila e calma vida interiorana lá do Sítio Gravatá, no município de Santana do Ipanema, lugar onde nasci.
De uns tempos para cá, zelando esses pequenos pássaros do Condomínio e tentando redimir-me das petecadas que lhes desfechei ou do aprisionamento de outros que cometi, quando menino, resolvi colocar, diariamente, à disposição deles porções de alpiste e painço.
Pelo interesse dos passarinhos pela ração, o espaço transformou-se em festa diária, de gulosos e desconfiados, à vista de todos de casa e de visitantes.
Já disse em crônica que em criança andei criando pombos, canários e passarinhos cantadores. Nunca me interessei em criar cães e gatos, porque meus pais, nesse particular, não tinham esse hábito. Por esse tempo, um valente galo de briga, que eu havia deixado na casa de minha avó Bilia, na cidade, escapulira do quintal e morreu atropelado, causando-me, então, muita tristeza e lágrimas.
Agora, nessa festa de alimentar passarinhos, dispensando-lhes atenção e cuidados, recordo-me de que em 2014, em excursão pela Europa, estive na cidade de Assis, na Itália. Lá, visitei a Basílica de São Francisco de Assis. Enquanto percorria seu amplo interior religioso, escutava do guia de turismo toda a história de vida e morte desse santo, considerado “a maior figura do cristianismo desde Jesus”. Dele disse Dante Alighieri: “Luz que brilhou sobre o mundo.”
São Francisco de Assis é conhecido como protetor dos animais. Imagens mostram ao seu ombro pássaros e, a sua frente, carneirinhos.
Pois bem. São Francisco de Assis nasceu em Assis, em 1182. Era filho de conceituado comerciante da cidade. Diz-se que em 1206 recebera de Deus a mensagem: “Vá, Francisco, e restaure a Minha Casa.” Era referência à Santa Igreja. Daí Francisco fez votos de pobreza e começou a pregar sua doutrina, fundando a Ordem dos Franciscanos.
Em peregrinação pelo mundo, pregando a fé cristã, terminou aprisionado na Terra Santa. Segundo a historiadora Dilva Frazão, o pregador Francisco de Assis é levado ao Sultão. “Para mostrar a superioridade da fé cristã, anda sobre brasas e imediatamente é libertado.”
Decepcionado e doente, em companhia dos seus discípulos São Francisco de Assis passou a viver na floresta em contato com a natureza. Conta-se que “com sua presença os peixes saltavam d’água e os pássaros pousavam em seus ombros”.
Faleceu em 1226, aos 44 anos de idade. Dois anos após sua morte, foi canonizado pelo papa Gregório IX.
Afinal, santo não sou, nem poderei sê-lo, mas vale a pena imitar São Francisco de Assis, que tanto admiro, com um pequeno gesto, alimentando meus passarinhos.

Maceió, dezembro de 2020.

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