Quando ginasiano, eu gostava muito de História como disciplina, notadamente de História do Brasil e História Geral, matérias que Aderval Vanderlei Tenório, então acadêmico de Direito, lecionava, em cujas aulas ele exercitava sua nascente qualidade de excelente orador e vitorioso advogado.
Mas isso aconteceu lá para os idos de 1954, no Ginásio Santana da minha Santana do Ipanema.
Agora, acabo de ler o livro O Silêncio dos Esquecidos, de autoria de Douglas Apratto Tenório, talentoso historiador, escritor, intelectual, professor e autor de várias obras sobre a história de Alagoas. Há algum tempo, eu também havia me debruçado na leitura de História de Alagoas, Seguido de O Baixo São Francisco, o Rio e o Vale, livro escrito por Moreno Brandão, historiador alagoano, escritor, orador, filósofo, jornalista e político do passado.
Os dois historiadores trataram do ambiente político existente em Alagoas a partir de 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República, fim do Segundo Império e a destronização de D. Pedro II.
Moreno Brandão, por exemplo, disse: “O credo republicano era apenas, como deixamos transparecer, balbuciado em Alagoas por meia dúzia de sonhadores, agremiados em clubes. A dissolução desses clubes dar-se-ia em breve tempo, se os acontecimentos não se precipitassem.”
De fato, em 19 de novembro, o comendador Tibúrcio Valeriano de Araújo era nomeado para o cargo de presidente provisório do estado (ainda não era chamado governador). Entretanto, no mesmo dia era ele, por decreto, substituído pelo coronel reformado Pedro Paulino da Fonseca, irmão do presidente provisório do Brasil. Pedro Paulino governou Alagoas no período de 02/12/1889 a 25/10/1890.
O coronel reformado, venerando ancião, segundo Moreno Brandão, “absolutamente não conhecia os meandros esconsos da politicagem provinciana”. E, ainda, não aceitando ataques da oposição, tornou-se violento e indignado com seus opositores. Mandou destruir a tipografia do Orbe e cometeu outras violências inaceitáveis.
O historiador Douglas Apratto, sobre os acontecimentos em Alagoas, disse: “A queda do regime monárquico e os turbulentos anos do alvorecer republicano tiveram consequências em todos os setores da vida nacional e local. Nas Alagoas, a cizânia da política levou a situações de tensão constante e a deposição de governantes.”
O historiador Moreno Brandão relacionou os políticos que ocuparam a cadeira de presidente de Alagoas após a proclamação da República. Victor Fernandes Barros era então presidente da província, e logo aceitou o novo regime. Formou-se, então, a seguinte junta governativa: Aureliano Augusto de Azevedo Pedra, coronel comandante do 26º Batalhão de Infantaria; Ricardo Brennand Monteiro e Dr. Manoel Ribeiro Barreto de Menezes.
As capitanias foram extintas em 1821. Daí até 1823 funcionaram as Juntas de Governo, cujos presidentes eram nomeados exclusivamente pelo Imperador. As províncias foram criadas na constituição de 1824, e as assembléias legislativas provinciais criadas com o Ato Adicional de 1834. Os presidentes das províncias, representantes da Coroa, governaram até 15 de novembro de 1889.
Segundo Douglas Apratto, “a alta rotatividade dos presidentes de província no Império foi danosa para o desenvolvimento da gestão pública”.
A propósito, Dr. Carlos Humberto P. Corrêa – UFSC, assim escreveu no XXII Simpósio Nacional de História, realizado em João Pessoa (PB), em 2003: “Os presidentes, geralmente forasteiros às províncias que deveriam administrar e em curtos mandatos temporários (...) eram totalmente desconhecedores dos problemas locais e das reivindicações naturais de suas populações.” E acrescentou: “Um número de 919 presidentes governaram as vinte províncias brasileiras da Independência até a Proclamação da República. A média, por província, foi de 48, dentro de um extremo de 60 presidentes que governaram Alagoas.”
Naturalmente que houve exceções. Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, por exemplo, governou Alagoas no período de 1869 a 1871 e deixou sua marca de excelente administrador, atuando no desenvolvimento da província, sobretudo na área social e cultural. Dele disse Moreno Brandão: “Uma espécie de ‘era de ouro’, um período de brilho com uma sucessão de acontecimentos positivos.” Fundou o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGA), Liceu Alagoano, Escola Normal, Caixa Beneficente (para órfãos e desvalidos), ponte de embarque no porto de Jaraguá e a estrada de ferro ligando Maceió a União dos Palmares. Visitou quase toda a província, utilizando diversos meios de transporte, entre os quais, canoas, barcaças, cavalo, carro de bois e lombos de burros.
Sá e Albuquerque, paulista, proprietário rural e político, governou Alagoas em três períodos, entre 1854 a 1857. Não obstante ter sido considerado dinâmico administrador, fechou o Colégio de Educandos Artífices “por ser muito dispendioso”. Ao propor manter o Colégio de Educandos Agrícolas, escreveu esta “pérola”, segundo o historiador Douglas Apratto: “Eu não quero sábios agrícolas, quero moços educados no campo, sabendo apenas ligeiras noções teóricas e o manejo de algum instrumento agrícola.”
Curiosamente, em 1817, por ocasião de sua emancipação política, Alagoas contava apenas com três de seus filhos detentores de curso superior: dois deles graduados em Direito e outro, em Medicina.
Com a palavra Douglas Apratto: “Os últimos senhores de engenho e seus descendentes são agora parlamentares, governantes, administradores públicos, editorialistas, articulistas, ostentam seus dotes intelectuais nas academias e agremiações culturais. Mantêm firme em suas mãos os cordéis do poder.”
Finalmente, a partir de 15/11/1889 até 12/6/1912 sentou na cadeira de presidente do estado de Alagoas, incluindo-se os de juntas governativas, uma média de um presidente por ano.
Euclides Malta governou alagoas em três oportunidades, de 12/6/1900 a 12/6/1903, de 12/6/1906 a 3/3/1909 e de 12/6/1909 a 13/3/1912. Esta última data marcou a queda da “oligarquia dos Malta”. O coronel Macário da Rocha Lessa, presidente da Câmara dos Deputados, completou o mandato de Euclides Malta, de 13/3/1912 a 12/6/1912.
O historiador Douglas Apratto comentou: “Diz-se, com muita propriedade, que o século XX começou em 1912, com a derrubada de Euclides Malta.”
Iniciava-se em 12/6/1912 o período governamental de Clodoaldo da Fonseca, intitulado de governo “salvacionista”.
Maceió, junho de 2023.
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