Aquela que recebe, afetivamente, o diminutivo de mãe e que leva, como testemunha, a criança à pia batismal é chamada, carinhosamente, de madrinha. Madrinha de batismo deve ser a criatura de estreita amizade e de muita consideração dos pais da criança. Uma deferência especial à pessoa escolhida.
Portanto, do latim “matrina”, diminutivo de mater (mãe), segundo mestre Aurélio.
Caberia, a meu ver, à criança, já fazendo uso da razão, a escolha da sua madrinha de batismo, em atendimento à pureza do desejo infantil. A condição subjetiva de cristão ou de pagão da criança não alteraria o ser biológico. Cresceria a criança com a nítida lembrança do ato religioso e da querida madrinha que a conduzira à pia batismal. Não sendo assim, a criança cresceria sem nenhuma recordação da sua idade no dia do batismo, nem a da própria madrinha, tampouco de nenhum traço fisionômico dela. Se menina, jovem, bonita. Restar-lhe-iam, com certeza, fotos amareladas, desbotadas, em velho porta-retratos, as quais, as mais das vezes, ficam esquecidas num canto de página de álbum guardado no fundo de baú.
O tempo irremediavelmente vai passando, passando, e levando a gente para lugares diferentes, venturosos, às vezes até nunca sonhados. Arroubos da juventude, escola, vida adulta, emprego, novos caminhos. O vínculo com a família e com a madrinha, naturalmente, vai ficando cada dia mais distante, sem esquecê-las. Surgem, afinal, os desafios da marcha do tempo.
Agora, no Dia das Mães, 10 de maio passado, li a bem elaborada crônica de autoria do confrade José Malta Fontes Neto, dedicada a sua mãe, dona Nininha. Ele aproveitou o embalo do belíssimo tema e tratou do respeito e estima que tem a sua madrinha de batismo.
Lembrei-me, então, de minha saudosa mãe e da minha madrinha de batismo, também falecida. Não sei com que idade eu tinha ao receber o sacramento do batismo. Imagino que madrinha Vailde, nascida em 29 de abril de 1930, deveria ter deveria ter 10 ou 12 anos de idade, quando me levou à pia batismal.
Criança tem memória fotográfica. De minha parte, guardo na memória muitos fatos, relevantes ou não, que ocorreram no meu tempo de criança. Tenho em minha memória, por exemplo, o momento da foto do casal, madrinha Vailde e o esposo Vandir, após o casamento, sentados em cadeiras na calçada da residência dos pais da noiva, na Rua Coronel Lucena, em Santana do Ipanema, no dia 1º de janeiro de 1947.
A partir daí, já com oito anos de idade, passei a conhecer minha madrinha, moça muito bonita, que o afilhado tinha incontido orgulho de tomar-lhe a bênção.
Após o casamento dela, pouco tempo depois, perdi-a de vista porque passou a residir, definitivamente, no Recife. Na capital pernambucana, o feliz casal constituiu uma família, razoavelmente numerosa, de 14 filhos.
O tempo foi passando. Assumi empregos e fui aprovado em concurso do Banco do Brasil.
Raramente madrinha Vailde visitava Santana do Ipanema. Somente o fazia em festas da família, talvez em casamento de irmãs, por aí. Então, nessas pouquíssimas ocasiões, procurava-a para pedir-lhe a bênção. Embora me recebesse com atenção e carinho, sentia, de mim para mim, certo constrangimento dela. Pudera, imaginava eu, homem maduro, feito criança, a pedir-lhe a bênção! Talvez fosse o preconceito de idade que, em mulher, sempre fala mais alto em nossa sociedde.
Soube, há poucos meses, sentido e consternado, que madrinha Vailde, viúva há algum tempo, havia falecido em 18 de julho de 2018, aos 88 anos de idade.
Que Deus a tenha no Céu, na merecida paz celestial.
Maceió, maio de 2020.
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