A BAGAGEM DE ZÉ PANTA

Djalma Carvalho

Zé Panta, já falecido, era zeloso funcionário do antigo DNER e um bom tocador de violão, dedilhando com especial desenvoltura esse bonito instrumento musical. Igualmente, tocava banjo e cavaquinho.
Sem fugir à regra, gostava de farra aos sábados, domingos e feriados. E nas horas ociosas, também.
Muito conhecido nas redondezas de Santana do Ipanema, sua terra natal. Espirituoso, de piadas engraçadas.
Casou-se com uma prendada moça da cidade de Tacaratu, Pernambuco. Durante seu noivado, costumava visitá-la acompanhado do inseparável violão.
De volta, postava-se à frente do Hotel do Peba, no entroncamento da estrada de Alagoas com a que liga Petrolândia a Arcoverde, Pernambuco, aguardando transporte para completar o regresso à sua cidade.
Violão na mão.
Dando de vista com qualquer veículo em sua direção, levantava o braço para pedir carona.
Nada. Ninguém lhe dava bolas.
Os carros iam passando e nenhum parava. Horas correndo e o tempo passando.
Nada de transporte.
Já à tardinha, a última esperança. Um caminhão na estrada poeirenta, gemendo, em sua direção.
Às pressas, deixara ficar o violão numa cadeira do hotel.
Levantou o braço, o caminhão parou, cobrindo-o de poeira.
Pediu passagem. O proprietário concordou.
– Um momentozinho, que vou apanhar a bagagem.
De volta, Zé Panta, como sua única bagagem, trouxe o violão debaixo do braço. Nada mais.
Diante do quadro, o proprietário do caminhão, muito aborrecido, advertiu:
– Se eu soubesse que o senhor era tocador de viola, não teria parado meu carro!
Ainda liberou o palavrão – “porra!” Ou outro do mesmo calão.
Não adiantou ponderação, nem justificativa de Zé Panta.
O sujeito tinha implicância com essa gente. E, categórico, completou:
– Meu amigo, em meu caminhão, mesmo pagando, não viajam: puta, soldado de polícia e tocador de viola! Entendeu?!
Zé Panta ficou aguardando outro transporte.

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