O BURACO DA BOTIJA
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2011.
Esse estado alagoano já sofreu tantas agruras que uma simples boa notícia nos deixa desconfiada. E se uma banal mensagem provoca desconfiança, imaginemos notícias de médio e de grande impactos. Somos vítimas há décadas dos ataques desvairados às nossas riquezas, pelos donos do poder, especialmente os poderosos do Executivo e Legislativo. O insano descalabro fez o nosso território ir à falência e a miséria absoluta onde congrega analfabetos e miseráveis tipos exportação. Enquanto a elite canavieira não pagava impostos, fábricas importantes e tradicionais iam fechando e migrando para outros estados. PRODUBAN, EMATER e tantos outros órgãos foram caindo como castelos de cartas. De um estado rico e progressista, passamos para uma situação comparativa a outras unidades da federação, qualidade ainda menos que província. As páginas do cotidiano vão sendo montadas nas folhinhas de parede com um índice social vergonhoso de descida ao fundo da cisterna. E o pior é ver o progresso célere de estados irmãos, ao lado da cabeça baixa do povo alagoano.
Quando o atual governo diz que organizou o estado desestruturado, falido, moribundo, esperamos que seja verdade. Quando o atual governo diz que se ins-talaram mais de quarenta indústrias em Alagoas, esperamos que seja verdade. Quando o atual governo diz que será implantado um estaleiro em Coruripe, espe-ramos que seja verdade. Ninguém suporta mais ser reboque de Pernambuco, Bahia e mesmo Sergipe. É um olho na verdade, outro no engodo. Um pé adiante, um pé atrás; orelhas erguidas numa desconfiança que nos impuseram e estar difícil de sair. Os acomodados dormem em berços esplêndidos, deixando pou-quíssimas, raríssimas, quase nenhuma voz gritar a sua “alagoanidade”.
Dizem que estar chegando a Mineração Vale Verde para extração de ferro e ouro na região de Craíbas e Igaci. Falam em 165 milhões de toneladas de miné-rios que, de primeira, poderiam render um trabalho contínuo de quinze anos para a citada mineradora. As previsões falam que as obras do parque industrial devem ser iniciadas em 2012 e que estudos da empresa prosseguem o que pode levar a novas descobertas de jazidas. Bem, vamos ver se é verdade que essa faina estar impulsionando o desenvolvimento social através de trabalho e educação.
Ainda hoje no Nordeste se fala em botija (aquele dinheiro e joias que as pessoas enterravam, pela ausência de bancos). Quando o camarada sonhava com uma delas, levava tudo que encontrava, deixando somente o buraco, para a frustração de quem descobria o rombo. É por isso que ainda ficamos desconfia-dos quando falam em tantas bondades juntas uma das outras. Esperamos que essa extração de ferro e ouro em território do nosso Agreste seja positiva; um fato provado e comprovado como honesto e digno propulsor de desenvolvimento; ou será mais uma sabedoria titã em levar o doce do garoto? Ai, ai, Dona Maria! Reza e vigilância, mulher, para não nos deixarem apenas com O BURACO DA BOTIJA.
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