NOS BICOS DOS SEIOS
(Clerisvaldo B. Chagas)
26/27 de fevereiro de 2011
Vou chegando de solo resistente
Mesclado em fulni-ô pankararus
De altivos reais mandacarus
Do veneno terrível da serpente
Da terra onde a seca mata gente
Das morenas de corpos sedutores
Das sonoras de vates cantadores
Do Sol inclemente todo dia
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
Sou da zona mais seca e pastoril
Dos alforjes de couro trabalhado
Das flores pequenas sobre o prado
Dos balanços da alça do cantil
Das antigas coronhas de fuzil
Que marcavam os cangaços matadores
Dos volantes ferozes caçadores
Do facheiro que acena à penedia
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
Numa besta Fubana vim montado
Pulando ao cavalo Fulustrecos
Bebendo aguardente nos botecos
Pegando na beca de soldado
Com buchada de bode fui criado
Palmilhei nos espinhos furadores
Embriaguei-me na fonte dos amores
No descalço que à bota não cabia
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
Do sereno da noite fiz meus panos
Da manhã mais feliz trouxe o orvalho
Rezei num cruzeiro de carvalho
No lajeiro deixei meus desenganos
No bojo das cavernas fiz meus planos
Nas montanhas matei os meus temores
Levantei os meus braços lutadores
Recebendo o troféu da ousadia
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
Trago a flor que entre as pedras vinga
Com espinhos cruéis dos juazeiros
As ponteiras dos relhos dos tropeiros
O cheiro do balcão após à pinga
O barulho da chuva na caatinga
As esporas dos galos multicores
O divino sugar dos beija-flores
O silêncio das grotas mais sombrias
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
Banhei-me no fulgor das alvoradas
Resisti à dolência do poente
Relutei nos esconsos da vertente
Balancei-me nos traços das ramadas
Copulei em orgia às madrugadas
Nos montes de Vênus chamadores
Gozei em amparos cobertores
Que o cio das deusas oferecia
E nos bicos dos seios da poesia
Dei vazão aos meus lábios sugadores
FIM
Comentários