MEU PAI
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2011).
O céu. O céu estava claramente azul. As nuvens de rendas brancas espelhavam as bordas prateadas de o arranjo solar. Um pincel encantado dava um toque cinza no interior dos capulhos, variando os contrastes. Aqueles algodões maiores também exibiam o simbolismo chumbo. Ameaças sutis de chuvas que não vinham. Pedaços de enfeites que escondem lágrimas contidas. Retalhos de prata que esvoaçam no poente. O céu. Quase o mesmo céu dourado de uma tarde igual. Quase o mesmo céu atípico que levou a minha irmã Neidinha. Dossel que compartimenta o meu coração em Helena, José Almir, Neide e Manoel Chagas. Miríades de letras amorosas que se fundem entre amor e universo. Sangra propenso coração. Corações têm olhos e choram. Ah! O tempo fecha o mormaço e envia mensagem na leve brisa que desalinha os cabelos, que beija na face, que suaviza o peito. É um extirpar de espinhos, um curativo na alma, um assopro na fé. Logo virar o Ângelus chavear o espaço vespertino. E vem a lua. Uma lua grande, enorme, magnífica, liberando fagulhas douradas, ladeando o caminho iluminado de Manoel. Chagas. Ouro tremeluzente sobre serrotes, montanhas, cordilheiras, mares e oceanos promulgando vitória. É a glória do ser. Sobre o ter.
A morte não é nada
É sonho fugidio
Aspecto bravio
Mas irmã disfarçada
Louçã alvorada
Que renova a semente
A vida da gente
É idílio tragédia
É teatro é comédia
Onde reina. Somente.
Em um mundo distante ornamentado
Onde os dons virtuosos são primeiros
Onde os sonhos são sonhos verdadeiros
Onde a luz não morre no banhado
Na tez do papiro desenhado
Logotipo que marca o lutador
Nem precisa repouso o viajor
Desabrocha constante sinfonia
Ganha vida a vida todo dia
Nas planícies repletas de amor
Chagas não se estraga. Lembre-se disso, MEU PAI.
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