CADASTRO SOCIAL

Clerisvaldo B. Chagas

CADASTRO SOCIAL
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2011).

Ninguém sabe quantos cegos, aleijados e pessoas com outros tipos de problemas, Jesus curou nas suas peregrinações pela Palestina. Transitando em terras da Galileia, Samaria e Judeia, seguido por multidões, não tem mesmo como se possa calcular os benefícios do filho de José. Levando-se em conta o atraso da medicina e a população regional, quantas formas de doenças não haveriam naquele recanto mediterrâneo! Mas parece que quanto mais se evolui no campo da cura, mais doentes aparecem lotando hospitais, postos de saúde e agências de benefícios.
Especificando apenas cegos e aleijados, víamos nas feiras do interior de Alagoas, grande número de pedintes que até se tornavam conhecidos para os feirantes. Lembro bem de uma linda mulher cega, olhos azuis, bem asseada, decentemente vestida, que pedia esmola tocando uma sanfona e cantando, aos sábados na feira de Santana do Ipanema. Eu tinha muita pena. Zequinha Quelé, repentista cachoeira, também cego, circulava nas feiras de Santana a Pão de Açúcar. Aleijados também assinalavam presença e não eram poucos.
Atualmente a denominação para quem tem problemas semelhantes, é deficiente, nome mais suave, porém, com desgaste constante que termina se igualando aos dois primeiros. Acontece que atualmente existe uma secretaria chamada de Ação Social que recebe verba a valer e, até é cobiçada pelos políticos por motivos óbvios. O que se propõe aqui, é que a AMA – Associação dos Municípios Alagoanos, elabore um censo para cadastrar pedintes habituais, comprovadamente cegos ou aleijados, em todos os municípios, inclusive confrontando os cadastros entre as diversas secretarias municipais. Uma vez de posse desses dados, tomar providências no sentido de uma política de dignidade dessas pessoas, tirando-as definitivamente da situação de mendicância e usando os benefícios da Ação Social para uma vida decente, prazerosa e produtiva.
Essa não é uma crônica literária. É como se fosse uma pausa reflexiva em nossos trabalhos. O leitor tem todo direito de acreditar ou não. Preparados e salvos versos regionais e filosóficos, em martelo agalopado, para o dia de hoje, desapareceram misteriosamente do arquivo salvo e não pude encontrá-los em nenhum outro arquivo. Desolado fui dormir sem saber o que escrever para hoje. Passava da meia-noite, quando veio um personagem de olhos azuis no meio da multidão e, veementemente, pediu-me essa crônica que ora elaboro. Pareceu-me um deficiente visual que se elevou na multidão, cujas palavras, não as entendi como foram pronunciadas, mas que as traduzi perfeitamente e acordei. Estou aqui às duas da manhã enviando a mensagem a AMA.
Naturalmente não é meu esse apelo aos prefeitos da Associação. Estou apenas servindo de instrumento, não deixando de cumprir a minha parte. Revelo, entretanto, a alegria imensa de ter sido usado para o bem. Tudo agora depende de boa vontade para um CADASTRO SOCIAL.

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