A ESTRELA DE MANÉ GUARDA

Clerisvaldo B. Chagas

A ESTRELA DE MANÉ GUARDA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de junho de 2011.

Não sabemos se algum dirigente do Brasil andou consultando os búzios, cartas, runas ou coisas semelhantes a respeito do futuro pátrio. É sempre bom um trabalho duro, digno, decente, mas com muita esperança no resultado do labor. Nem todos nasceram para chegar à riqueza, até por que os mistérios divinos não permitem ainda que todos estejam nivelados por cima. Mas se não estamos nivelados por cima, também não estamos nivelados por baixo. E como temos um futuro sempre encoberto pelo nevoeiro da eternidade, é de bom alvitre conservar pelo menos uma dose de otimismo para alimentar o dia a dia. Gosto de ser simples nos escritos, mas sempre respeitar a nobreza da linguagem. Os textos imundos, chulos, que sempre chamam a atenção para o rejeito, retiram de nós até a simpatia que temos pelo escrevente. Isso também me faz lembrar certo humorista falecido cuja linha de trabalho era toda baseada nas imundícies do dia a dia. Sempre o evitei, pois náuseas me causavam a sua simples aparição. Conheço no Brasil pessoas talentosas que escrevem sempre para sites, porém, a linguagem constante sobre porcarias, tornam esses escritos penicos de hotel. E quem lida com excrementos todos os dias, não pode cheirar a sândalo. Premido, porém, pelo assunto de hoje, sou obrigado a utilizar esse expediente como arma necessária.
Em nossa trajetória encontramos pessoas que não param de reclamar da vida. Algumas até com sucessivos “nomes” e palavrões que por isso até se tornaram conhecidas. Entre os inconformados com a existência estava o senhor Mané Guarda, um cidadão pobre de fala grossa, arranhada e devagar, prestador de serviço em Santana do Ipanema. Uma pessoa popular e querida por todos, apesar do seu constante mau humor. Certa feita, quando houve um comentário sobre o sucesso de um artista, Mané Guarda, foi enfático: “Todo mundo nasce com uma estrela na testa; a minha nasceu no c.... No primeiro p... que eu dei, ela voou na casa da peste!”
“A PETROBRÁS anunciou nesta terça-feira sua ‘principal’ descoberta no pré-sal da Bacia de Campos. Segundo a companhia, foram encontrados ‘dois níveis de petróleo’ de boa qualidade no poço exploratório informalmente conhecido como Gávea”.
Para os que afirmam que Deus é mesmo brasileiro, a razão parece sorrir a essa afirmativa. Enquanto estávamos pobres, o “mundo” estava rico. O denodo, o otimismo, o trabalho constante do nosso povo, parecia clamar aos céus a nossa desdita no globo dividido. A descoberta de um oceano de petróleo foi como um prêmio total da loteria para um miserável. E o interessante é que essa dádiva nos foi ofertada no momento em que o nosso país havia se organizado completamente para poder ir ao crescimento. É como se após a higienização vestíssemos a melhor roupa para receber um presente há tempo sonhado. Depois de assombrarmos o mundo com a nova descoberta, eis que a PETROBRÁS continua descobrindo mares periféricos sobre o grande oceano do óleo. Quando Deus quer, modifica tanto o indivíduo, de repente, quanto um país grande ou pequeno, para transformá-lo num grande país. O mundo agora está mais pobre e o brasileiro mais rico. Pelo jeito, tanto sacrifício compensou. A estrela do Brasil, felizmente, não nasceu no lugar da ESTRELA DE MANÉ GUARDA.

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