SAGA DO CANGAÇO PRECISA SER RECONTADA

Antonio Machado

Não sou biógrafo e nem pretendo sê-lo, do famigerado bandoleiro, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, morto na chacina de 28 de julho de 1938, em Angico, município de Poço Redondo, estado de Sergipe, juntamente com mais 10 cangaceiros, e 01 soldado da força alagoana, Adrião, mas os escritores que escrevem sobre a figura controvertida de Lampião muitos esquecem pontos importantes da tragédia que permeou os sertões nordestinos de 1920 a 1938, mormente o tripé Alagoas, Sergipe e Pernambuco, dentre tantos escritores do assunto citamos Bezerra e Silva, Optato Gueiros, Tenente João Bezerra, que escreveu Como dei cabo a Lampião, obra que tem servido de lume para muitas outras, Aglae de Oliveira Lima, Frederico Pernambucano de Melo, Pe. Frederico Bezerra Maciel, Clerisvaldo B. Chagas e Marcelo Fausto, todos eles focando o mesmo tema, com sua visão de pesquisadores e historiadores, que tem servido de subsídios para a história do cangaço. Muitos desses escritores contam a história dentro de uma sociologia mais amena, defendendo o bandoleiro numa história moderna, reescrevendo uma nova saga do cangaço, dizendo que Lampião foi fruto do meio.
O homem carrega sempre em si as lembranças de seu passado, contudo não é esse passado que modula o homem, haja vista Lampião não descende de família de cangaceiros, pois seus pais eram pessoas pacatas, porém o roubo de gado entre as famílias no vale do Pajeú, já era uma praxe gerando essas atitudes, rixas e malquerenças entre as famílias visinhas, fazendo acender no facínora seu ingresso no cangaço, onde fez sua carreira no banditismo, embrenhando-se sertão adentro até seu trucidamento no fatídico 28 de julho de 1938, em Angico, estado de Sergipe. A historiografia do cangaço está eivada de fatos, ora ocorridos de fatos, ora fantasiosos. Na chacina de Angico os historiadores narram os ocorridos onde muitos são unanimes em registrarem o número de 11 mortos, sendo Lampião, Maria Bonita, Quinta-feira, Mergulhão, Enedina, Luíz Pedro, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete e Marcela, cujos nomes ostentam numa cruz sem graça em cima de uma pedra no local da tragédia.
O pesquisador Antônio Vilela de Souza, lançou em 2012 um livro biográfico focando a vida pregressa do soldado Adrião Pedro de Souza (1915-1938), nessa chacina o nome desse herói para muitos ficou no anonimato, essa obra de Antônio Vilela de Souza intitulada (A outra face do cangaço, vida e morte de um praça) onde o famoso pesquisador busca nos interstícios da história com muito ênfase a figura do soldado Adrião, que também foi morto na chacina, e seu nome sequer, consta na lista dos trucidados, sendo está história passível de ser recontada dando àquele soldado, o seu valor devido, pois morreu no massacre que vitimou o temível cangaceiro Lampião. Portanto, naquele 28 de julho de 1938, morreram 12 pessoas e não 11, como diz a maioria dos pesquisadores do cangaço, que quando falam nele dizem apenas um soldado, e silenciam sobre a vida desse bravo policial, daí a necessidade de se recontar essa saga que enxovalhou o nordeste. Escreveu Francis Bacon (1561-1626): “a verdade é filha do tempo, não da autoridade”.

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