O IPANEMA DE OUTRORA E DE HOJE

Antonio Machado

Parodiando o Gonzagão a Benito de Paula, que escreveu: “como é bonito Benito/ quem é poeta é quem vê/ como é bonito Benito/ poeta como você”. Das inteligências dos poetas brotam as mais belas páginas literárias, que nós outros, não conseguimos concatenar estas pétalas que amenizam, muitas vezes a dor do cotidiano, tornando a vida menos amarga e mais doce. O maior cantor do Brasil de todos os tempos, Nelson Gonçalves, cantou e encantou esta pérola musical: “poeta é quem vê poesia nas flores/ e olha a vida por um caleidoscópio de cores/ poeta é quem tem imaginação/ e sabe que os olhos da alma/ são as janelas do coração”. Não possuo condições sobejas para dissecar se a prosa emana da poesia, ou a poesia, da prosa, talvez o primeiro alvitre melhor se coadune, porém deixo ao leitor como juiz da sentença prolatada.
A natureza deixou as águas como o ser indispensável a vida, por mais de várias maneiras para que os homens se servissem dela, dizem os geógrafos que ¾ do mundo é constituído de água, e por ironia, o polígono das secas, situa-se no nordeste. Foco como ponto central destas linhas, apelidadas de crônica ou artigo, o veterano rio Ipanema, nascido no sopé da serra do Ororubá na região de Cimbres município de Pesqueira estado de Pernambuco, onde lá estive in loco.
É deveras surpreendente, o nascedouro do rio Ipanema, sem beleza nenhuma, apenas, uma pequena lagoa, talvez seja seu início, que vai se chamando de mimoso e Ipanema ao longo de sua extensão, com pouco mais de 220 km (de Santana do Ipanema). Ao longo de sua história, vários escritores, poetas populares e eruditos tem cantado toda sua trajetória servindo de tema para muita literatura. Numa pesquisa poética e bem requintada, o escritor Dr. Tobias Medeiros oriundo dos carrascais Santanenses e das floradas vivas das Craibeiras que ladeiam Poço das Trincheiras, com vínculos dos lordes da Holanda, Dr. Tobias, culto e versátil, mesmo já octogenário não se dobra as intempéries que a vida lhe impõe, continua forte e altaneiro como o Ouricurizeiro do sertão, que balança mas não cai, constituindo-se um artífice da pena, escreveu uma obra monumental sobre o rio Ipanema, exaltando o valor e a importância desse rio, que se não é perene, mas abre um sulco encontrando-se a água a flor da terra em todo seu arrabalde.
O escritor Clerisvaldo B. Chagas motivado pelo desejo do estudo da geografia resolveu percorrer todo o leito desse rio, e o fez a pé para melhor conhecer e se inteirar das suas minudências, trabalho árduo, que ao cabo de tão dolorosa e exaustiva batalha tão meritória, merecidamente escreveu a obra Ipanema, o rio macho obra esta que narra a luta e as peripécias do Ipanema, que mesmo sem ser perene tem um grande valor para o sertanejo, como émulo da história dessa gente.
O Ipanema de outrora que também Dr. Medeiros, brincou nas suas areias, banhou-se em suas águas salobras e corredeiras, melhor que ninguém que esse poeta para descrever em sua maviosa obra, que deve adentrar as salas de aulas mostrando em versos brancos o valor do rio de todos, suas águas submersas nas areias quando cavadas, a água brota com fluidez dessedentando a casa do sertanejo em seu rebanho, quando a seca se aboleta de cama e mesa sem prazo para sair. No poema Catarse o poeta escreveu: “jardim consultório/ brisa e perfume das flores – ar condicionado/ pedra de vã/ alma aberta/ o mundo indecifrável/ das pedras nas areias do Ipanema...” Ipanema é uma obra de 179 páginas, escrito por um mestre das letras.
Infelizmente o rio Ipanema está morrendo suas cheias desapareceram com as secas seguidas, e os descasos das autoridades deixando somente a lembrança de um passado distante, mas tenho certeza, caro leitor, se você ouvir a música Saudade, na voz belíssima de Waldo Santana, de autoria do bardo compositor Remy Bastos, uma lágrima lhe molhará as pálpebras, vejamos este pequeno trecho da inolvidável letra “saudade, não vai embora/ é cedo/ pois sozinho tenho medo de ficar a recordar/ dar uma volta na Praça do Monumento/ onde fiz meu juramento na igrejinha da Assunção/ ponte do padre/ que divide os dois bairros/ lá onde mora meu amor/ hoje digo neste poema/ do tempo em que vivi/ em Santana do Ipanema.

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