CARNAVAL E CINZAS

Antonio Machado

Antonio Machado

Muitos já escreveram sobre este assunto, carnaval e cinzas, este artigo é apenas mais um, sem graça, talvez. A alegria do carnaval está na empolgação dos foliões e nas alegorias próprias do momo, variando com a criatividade de cada um, mas tudo passa, como escreveu um poeta: “nesta vida tudo passa/ neste mundo de ilusão/ vai para o céu a fumaça,/ fica na terra o carvão”. Tudo vira cinzas.
Porém em todo esse glamour, algo de imaterial, parece se condensar no tempo, para escrever os capítulos da história da literatura musical no campo carnavalesco, que sem ser saudosista e nem piegas, observa-se que nos carnavais de outrora, suas músicas fizeram uma história a parte, com letras magistrais e músicas que se eternizaram no tempo e ainda hoje são relembradas pelos carnavalescos de todas idades. No carnaval de 2.017, ocorreu um fato atípico, haja vista todos os prefeitos novos que assumiram as prefeituras alardearam aos quatro ventos que, os municípios não tinham condições de promoverem o carnaval, pois estavam todos quebrados, isto é, sem recursos, contudo, praticamente quase todos realizaram seus carnavais, propiciando festa ao povo, porém nenhum desses gestores, sequer, concedeu um centavo de aumento ao funcionalismo, caso quase inusitado. Nas ruas das cidades sertanejas de pequeno e médio porte, o povo brincou os quatro dias com muita folia e música no pé, só não se ouviu uma música carnavalesca, somente o som das famigeradas bandas de axé.
Em tempos idos de 1.935 a 1.943, surgiram músicas que se perenizaram na história dos carnavais, a exemplo de Jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, Alá lá ô, de João de Barro e Humberto Ribeiro, no retrocesso da história registra-se a Praça onze, de Herivelton e Grande Hotelo, gravado pelo imortal Trio de ouro, a sempre viva, Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago, que até hoje é cantada nos salões de festas carnavalescas, posteriormente vieram Máscara Negra, de Zé Keti, Direito de nascer, inspirada na novela do mesmo nome e muitas outras músicas de carnavais que marcaram épocas, que os “malévolos” axés, tendem a todo custo apagar da memória dos foliões, mormente àqueles que ainda tentam reviver esse capítulo tão vivo quanto belo dos carnavais de um passado não muito distante. Hoje tudo é cinza.
Esses valores imateriais precisam ser resgatados, não se ouve uma música nova de carnaval, a juventude de hoje desconhece essas pérolas musicais que fez sucesso, atualmente faz sucesso o que está na moda, na internet, coisa sem graça e sem cultura que só gera as tais “curtidas”, e dai para a televisão é um salto e a moçada, ainda imberbe, acha que o bonito é o que está na moda, se é assim, que assim seja. Escreveu Ebner-Eschenbach: “Na juventude aprendemos, na maturidade compreendemos”.

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