Antônio Machado
Como admirador e estudioso do sertão e conseqüentemente da caatinga, chamou-me a atenção o texto do ilustre colega da Tribuna do Sertão, Bráulio Tavares, edição de 08/08, intitulado “aves da caatinga: Assum preto ou Anum preto? Eis a questão. Não sou ornitólogo para dar a palavra final sobre o tema proposto, mas meu caro jornalista Bráulio Tavares, asseguro-lhe que ambos são distintos. Numa das minhas viagens ao Juazeiro do Norte, encontrei nos arrabaldes de Serra Talhada, uma ave dessa espécie, e assegurou-me o proprietário que era realmente um Assum Preto, como tão bem descreveu Humberto Teixeira, e magistralmente Gonzagão gravou o clássico Assum Preto que até hoje é sucesso, tornando-se uma canção imortal, perenizando-se no tempo e na história da Música popular brasileira - MPB. No dicionário do Folclore brasileiro de Câmara Cascudo, na 8ª edição, nem no dicionário de Antenor Nascentes datado de 1943, hoje uma raridade, não fazer referências ao Assum Preto. Trata-se de uma ave menor que o Anum, olhar melancólico e ativo, sempre saltitante tão próprio das aves em cativeiro. Indaguei de seu dono se ele cantava, ele assegurou que sim, meio estridente, mas não estava cego, era uma ave de pena lustrosas, bico curto e semi curvado, seu porte não possui nenhuma atratividade, de cor preta sim, mas encantou o poeta nordestino Humberto Teixeira, que certamente o ouviu, inspirando-lhe a bela canção. Os mais vividos nos anos em minha região, dizem que já existiu essa ave no sertão de Alagoas, porém a ação depredadora do homem tudo acabou, sendo hoje uma ave extinta.
Quanto o Anum Preto, sua descrição é maravilhosa, ele pertence a família dos Cuculídeos, andam em bando, seu canto é apenas um piu gutural, alimentam-se de insetos, e são inofensivos. No Brasil existem cerca de seis variedades dessa ave, a saber: anum-preto, anum-branco, anum- de -brejo, anum-de-campo, anum-grande e anum-peixe, conforme narra o lexicógrafo Antenor Nascente porém somente o anum preto e o branco são conhecidos no Nordeste, mormente no sertão seu habitat, dado ao clima quente e seco onde eles melhor se adaptam. O bando põe no mesmo ninho feito nas copas das árvores, mas de pouca altura, notadamente os pretos, a chegam a por doze ovos numa si ninhada ou mais, os ovos são bonitos esverdeados matizados de branco, serve até de adorno, enquanto os anuns brancos põem menos e os ovos são de cores brancas.
O anum é uma ave que se recolhe muito cedo para dormir e acorda com os primeiros raios do dia, possui um voou desajeitado e de curta distância, seu andar é meio claudicante, porém muito cioso e atento ao que se passa ao seu redor. Hoje essa ave para uns meio agourenta, faz até parte do cardápio sertanejo, em vista disso está sendo dizimado, haja vista não possuir nenhum órgão de controle, o anum é também responsável pelo controle biológico dos insetos que infestam as plantações sertanejas.
Essa ave sem graça faz parte sim do folclore nordestinos,a exemplo do bacurau, fogo- pagou, sanhaçu, beija-flor, asa branca, bem ti vi e tanto as outras aves que com seu canto e plumagem, enfim seu jeito de ser chama atenção do homem nas suas pesquisas. O poeta Colly Flores, “sertólogo” de sete costadas, escreveu esta décima em homenagem ao Anum preto, assim:
“Anum, ave agourenta”
O canto prenuncia o mal,
Seu chiado ninguém agüenta,
Com seu piu gutural,
Dizem que dá má sorte
Ouvir-se anum cantar,
É até sinal de morte
Me benzo vendo passar,
Não gosto de anum preto
Por que ele dá azar.
Não é nossa intenção abrir polêmica com o jornalista Braulio Tavares, mas esclarecer melhor seu artigo tão oportuno, que me suscitou este trabalho despretensioso.
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