De repente, nos damos conta de que algumas pessoas marcantes no cotidiano desaparecem. Todo lugar tem os seus personagens folclóricos; loucos, andarilhos e pedintes inveterados. É incrível como permanecem no inconsciente coletivo.
Maria dez mirréis era uma dessas pessoas. Há tempos que não a vejo. Nunca mais tive notícias. Por onde andará? Eu também andei por tantos caminhos, procurando meu lugar por aí!
Maria era uma sarará que vagueava pra cima e pra baixo pedindo a qualquer um o mesmo valor, choramingando e cantando ao mesmo tempo: “ - Me dê dez mil-réééééis” (dez mirréis). Seus interlocutores já sabiam como agir e pediam para que cantasse algo. Não sei dizer onde aprendeu aquele refrão. Deveria ser trecho de algum ritual de lazer ou trabalho de domínio público:
Assim cantava: - Subi no cajueiro pra tirar caju, menina bonitinha do vestido azul. E disparava em seguida: - Me dê dez mirrééééééis!!!! Com a sua voz aguda, afinada e arrastada, típica das carpideiras, lavadeiras de roupa no rio Ipanema, além das novenas.
Lembrou-me o professor Clerisvaldo que quando alguém negava seu pedido, dizia de pronto, diante das pessoas:
- Bicho covardo!!!
O termo “sarará” é como, no Brasil, são chamados os mestiços de brancos e negros cuja principal característica é a presença de cabelos crespos, loiros ou ruivos, e pele clara, bem como aos filhos de negros nascidos com albinismo, chamados especificamente de sarara miolo.
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Blogs: Maria Dez Mirréis
LiteraturaPor João Neto Félix Mendes - www.apensocomgrifo.com.br 21/03/2023 - 18h 16min Reprodução caricarura do acervo de Bartolomeu Barros
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