Bloco Tico Mia - 30 Anos

Cultura

Por Eduardo Carvalho Cavalcante

Bloco inicia a sua festa momesca com

A festa de carnaval foi trazida pelos portugueses e introduzida na cultura popular brasileira a partir do "Entrudo", um tipo de brincadeira popular de atirar (jogar) pós e líquidos uns nos outros, com o canto de canções bem humoradas e animadas. Posteriormente, foi importado também o costume dos Carnavais franceses de jogar confetes, serpentinas, diminuindo um pouco o “mela mela”.

Com o passar do tempo, o Carnaval nacional foi adquirindo outras formas de comemoração, sendo muito influenciado também pela cultura africana, misturando-se com os gêneros musicais portugueses, surgindo, assim, o famoso samba, as marchinhas de carnaval, o maracatu e o frevo, dentre outros ritmos musicais.

Atualmente o Carnaval alcançou o posto de maior festa popular do Brasil e em razão da tradição católica é comemorado antes da Quaresma, período que antecede a Semana Santa.

Embora as grandes comemorações carnavalescas ocorram nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador, o país inteiro também comemora o carnaval com muitas festas de rua e animação.

Não difere em Alagoas, aqui a concentração no período carnavalesco acontece principalmente nas cidades litorâneas, como Barra de São Miguel e Paripueira e em algumas cidades interioranas, a exemplo de São José da Lage, Piranhas, Murici e Santana do Ipanema.

Nos tempos de outrora, a Princesa do Sertão ficava extremamente agitada durante o dia com os desfile de escolas de sambas e dos blocos tradicionais, além das maratonas realizadas no período noturno na Praça Senador Enéas Araújo, local denominado carinhosamente pelo grande comunicador santanense, Chico Soares, de QG da Folia.


Não podemos olvidar, dos grandiosos bailes carnavalescos realizados no saudoso Tênis Clube Santanense, onde a "nata" da sociedade sertaneja se reunia para dançar ao som das melhores bandas e orquestras regionais.

Para as crianças e adolescentes restavam apenas as matinês realizadas no final da tarde no Tênis Clube, momento que a meninada gastava as energias dançando muito axé e frevo, atirando confetes e serpentinas em todo o salão do clube.

Um grupo de pré-adolescentes que também não queria ficar de fora das comemorações carnavalescas se reuniu e teve a brilhante ideia de criar um bloco de carnaval.

Inicialmente, essa turma juvenil fundou o Bloco “Os Pestinhas”. Essa turminha ao vestir a blusa do bloco incorporava realmente o espírito bagunceiro e travesso do famoso filme do início da década de 90, jogando ovos e muita sujeira nos outros blocos que desfilavam na cidade.

No carnaval de 1993, inconformados com admissão de alguns integrantes de outras faixas etárias e que não fazia parte da turminha, uma parte da garotada mais nova abriu uma dissidência e fundou um novo bloco, denominando de “Tico Mia”.

O nome do bloco foi inspirado na música “Gato Tico” do cantor Sandro Becker, cujo refrão tem um duplo sentido “Tico mia na sala, Tico mia no chão. Tico mia no tapete, Tico mia no sofá. Tico mia na cama, toda hora sem parar”.

O bloco Tico Mia acompanhou o final da transição da mobilidade dos blocos que antes saiam desfilando na cidade em carroças puxadas por burros e depois passou a sair em caminhonetes e caminhões, vez que os blocos passaram a se deslocar durante o período diurno para as cidades de Pão de Açúcar e Piranhas, possibilitando aos integrantes dos blocos aliviarem o forte calor sertanejo nas águas do “Velho Chico”.


Durante as semanas antecedentes ao carnaval, as reuniões no bloco Tico Mia eram constantes, principalmente para falar sobre a organização do bloco, pedir patrocínio aos comerciantes locais, mandar confeccionar as camisas, dentre outros assuntos, sem falar ainda nas votações secretas exigidas para a admissão de novos participantes, sendo bastante rigorosa esta seleção no início do bloco, pois somente poderia participar quem fosse aprovado pela ampla maioria.

Inicialmente, o bloco era composto apenas pelos garotos, porém depois de alguns anos foi permitido o ingresso também das mulheres, o que causou um certo problema com os pais das meninas que não aceitavam de bom agrado o nome de duplo sentido adotado pelo bloco. Para acabar com esta polêmica, a turma feminina adotou no primeiro ano o nome Tico Mania. Entretanto, nos anos posteriores o bloco passou a utilizar apenas o nome Tico Mia, sem qualquer distinção entre homens e mulheres.

Com o passar do tempo, a turma foi crescendo, sendo necessário alugar durante o carnaval um local para servir como ponto de apoio aos integrantes do bloco e guardar as bebidas. Por muitos anos, a sede ficou instalada na Rua 26 de julho (por trás do restaurante Xokant’s), no bairro Monumento.

A concentração já começa geralmente uma semana antes do carnaval, com o baile à fantasia realizado pelo Clube da Melhor Idade de Santana do Ipanema. Durante o período carnavalesco, os moradores do entorno da sede do bloco sofriam bastante, principalmente pelas algazarras e brincadeiras que varavam a madrugada.

No sábado de “Zé Pereira”, o bloco Tico Mia organizou por muitos anos o desfile do Bloco “As Pecinhas”, oportunidade em que os homens se fantasiavam com trajes femininos e desfilavam no final da tarde pelas ruas da cidade.

O Tico Mia sempre manteve o “modus operandi” do início do bloco, pois o “mela mela” é sua marca registrada, causando um verdadeiro pavor aos outros blocos e foliões, aumentando, assim, a sua fama no Sertão. Não era difícil perceber que quando o bloco Tico Mina chegava na maratona, os foliões e os outros blocos que ficavam próximo ao antigo Banco Produban se afastavam prontamente com medo do “mela mela” e da sujeira provocada pelos integrantes do bloco.

O tempo passou e como passou rápido, já se foram algumas décadas, das escolas de samba da cidade ficaram poucas lembranças, muitos blocos deixaram de existir, as matinês e os bailes no Tênis Clube já não são realizados mais, até o QG da folia mudou de lugar. Todavia, desde 1993, o Bloco Tico Mia sempre abrilhantou o carnaval santanense e da região, completando neste carnaval 30 anos de existência, sendo considerado atualmente um dos blocos mais antigos em atividade em Santana do Ipanema.

Acredita-se que aproximadamente mais de 500 pessoas já tenham participado do bloco Tico Mia durante toda a sua existência.

Nestes 30 anos muitos momentos alegres e divertidos foram vivenciados pelos integrantes do bloco, foram muitas gargalhadas e brincadeiras, muito frevo e “cachaças erradas”. Certamente, estes momentos preencheriam diversos livros com muitos “causos” engraçados, foram tempos que não voltam mais e que nunca se apagarão da memória.

E o mais importante de tudo isso é que mesmo após os 30 anos de história do Bloco Tico Mia, a amizade daqueles garotos de outrora que apenas queriam curtir o carnaval de Santana do Ipanema permanece a mesma, pois quando a amizade é verdadeira, ela não tem distância e nem tempo, ela sempre será eterna. E que venham ainda muitos carnavais em Santana do Ipanema com o Bloco Tico Mia.

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