[…] Aqui, peco licença para desviar-me um pouco do assunto e falar sobre a diferença que existe entre amor e paixão e o que deve ter acontecido entre Zumbi e sua “raptada”: o amor exige olhares dengosos, vegetarianos e cumprimentos formais; a paixão, ardentes beijos, olhares carnívoros e penetrantes. No amor, os corpos estão na vertical, retilíneos; na paixão, encontram-se, impreterivelmente, na horizontal, sendo um côncavo e outro convexo. No amor, o diálogo se prolonga e é quase interminável, tornando-se muitas vezes, monótono; na paixão, ele é curto, curtíssimo e muito cedo tem início a ação. O amor é um sentimento, uma superfície lisa, não se diz, se vive; a paixão você sente e pratica, é um exercício físico, procura qualquer espaço, reentrância. No amor os corpos são perfumados, bem vestidos e frios; na paixão são suados, quentes e completamente nus. O amor é urbano, feito em motéis com luzes multicoloridas, cascatas artificiais e lençóis de seda; a paixão é rural, iluminada pela luz do sol, da lua, das estrelas e pratica-se em qualquer lugar, quanto mais primitivo melhor. No amor os corpos apenas tocam-se; na paixão, um está dentro do outro. O amor exige carícias, delicados beijos, promessas jamais cumpridas; a paixão, beijos ardentes e violentos, mordidas e arranhões. O amor é racional, humano, ético; a paixão é instintiva, animalesca, é um processo licantrópico, draconiano, onde se tem como cama o capim seco dos campos, o solo da estrada, como luminárias o brilho da lua e das estrelas, como cobertor o calor que emana de nossos corpos ou de outros animais e como banheiro uma bica de bambu, um poço de águas mornas ou uma cascata de águas cristalinas. No amor o gozo é silencioso, formal educado; na paixão quando se goza se urra, se berra, se uiva como um animal e depois se desfalece.
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Literatura: Amor x Paixão de Zumbi pela cabocla Maria
LiteraturaPor Aloídio Vilela de Vasconcelos 07/01/2023 - 13h 10min Reprodução do livro O ASSASSINATO DE ZUMBI: O SADISMO DE UM CRIME
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