Ao longo dos tempos, a leitura se configura como uma poderosa ferramenta para a sobrevivência do homem. Contudo, em minha compreensão, tal atividade, se transformada em obrigação, não passa de um simples enfado. Fundamental, é que o leitor possua o direito de escolher o que quer ler. Respeitado tal princípio, o cidadão, ao decodificar símbolos, encontra condições de decifrar e interpretar as coisas do mundo que existem em seu entorno e, acima de tudo, entendê-las e compreendê-las.
Foi assim que, conhecendo a pérola de Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver, tive oportunidade de conectar textos escritos em 1726, com os dias atuais. Naquele trabalho, o herói visitou Liliput, o país dos minúsculos habitantes, depois passou por Brobdingnag, a terra dos gigantes, onde percebeu sua mediocridade ante a grandeza dos habitantes, seguiu para a ilha flutuante de Laputa, quando conviveu com alienados cientistas e, por fim, chegou a um continente, onde os cavalos eram inteligentes e educados, enquanto os seres humanos, reduzidos à selvageria.
Em seu Best Seller, Swift, satiriza a sociedade do Século XVIII. Mas, foi com os equinos que as lições, advindas da experiência vivida pelo viajante podem ser projetadas para a realidade do Século XXI. Então, após três anos de convivência, finalmente Gulliver adquiriu a confiança do líder local, tendo então, demonstrado a capacidade dos racionais conviverem, conhecerem, e transformarem saber em ciência para usá-la em prol da conquista, embora, ao mesmo tempo, se haja dado conta da frieza, crueldade e do quanto a raça, por ele representada, é capaz de machucar, trair e desprezar em nome da avareza. Uma das frases mais marcantes, ditas pelo cavalo, a Gulliver, foi a seguinte: O homem, é a única raça, na face da terra, que come sem ter fome, bebe sem ter sede, fornica sem ser para procriar e devasta o habitat em que vive, somente em nome da irresponsabilidade.
Não existe como desdizer as três primeiras teses do grande escritor. Trezentos anos depois, só temos de ratificar integralmente a quarta afirmativa, principalmente quando nos voltamos para o meio ambiente, irresponsavelmente assassinado, a cada dia, por nossos semelhantes, ao demonstrarem toda sua selvageria, trucidando rios, mangues, vegetações diversas e maculando principalmente as árvores, sinônimos de eternidade, que nunca ficam de costas para ninguém, vez que sempre estão de frente para quem delas se aproxima, emprestando suas sombras para acalmar a aridez do tempo; produzindo beleza para os olhos, com a mudança sutil de suas cores, no passar das estações; que choram quando são feridas; andam, com o crescimento de seu tronco e, principalmente, conseguem se apresentar como referência de uma localidade, de um povo, uma região.
Sem sombras de dúvidas, o relacionamento dos homens com as árvores, foi um dos mais determinantes na concepção das civilizações que se sucederam. Ela está na escola, na energia, na casa, no lápis, no papel do caderno, na revista e, até, no diploma que nos dá suporte para a vida inteira. É uma pena, que não tenham, recebido, por parte dos civilizados, o respeito que fazem por merecer.
AS ARVORES E OS HOMENS
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly - Presidente da Academia Alagoana de Letras 18/04/2022 - 09h 19min
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