O fabulista de “Caetés”

Crônicas

M. Ricardo-Almeida

Novas cartas de Graciliano Ramos é uma demonstração literária ao valor da memória. E a cidade que preserva seus aspectos históricos vai mais longe.

O tempo é uma agulha
pela qual a linha passa:
a uva, a maçã, a manga
há na feira em Santana
e convive-se na crônica,
nessa divindade grega,
desde Cronos derivada;
uma criação dos povos
faz congelado o tempo.

Independe da época e dos meios de comunicação, as cartas cronificam as eternidades. Como restam demonstrado no patrimônio cultural alagoano as cartas de Graciliano Ramos – autor das narrativas sobre Madalena e Honório, em “São Bernardo”.

Conheci em Arapiraca
a segunda esposa
do Velho Graça
num banco escolar

o acaso das conversas
os escritores alagoanos
por horas conversamos
sobre a cachorra Baleia

um encontro por engano
e um longo bate-papo
no breve silêncio da brisa

e naquele festival de teatro
homenagearam d. Eloísa
mulher de Graciliano Ramos.

Aprende-se, desde os anos iniciais, que a educação bancária é ação sem didática e antipedagógica. Toda e qualquer educação bancária difere de práticas educativas que possam ser digeridas por quem se propõe a aprender. Metacrônica e a vocação nas escolas unem-se às vozes dos estudantes em salas de aula.

Estudantes, estudantes,
estudantes nas escolas
em Santana do Ipanema,
unam-se já estudantes;
sejam cronistas de hoje,
cronistas de seu tempo;
não cronistas caducos.
Seja a história memória
antes desse crepúsculo:
o anoitecer dessa vida.

Aprender na escola em Santana do Ipanema ilumina o seguir aprendendo. Aprende-se, na Taxonomia de Bloom, que o processo de aprendizagem relaciona-se intrinsecamente a aspectos da lembrança, compreensão, aplicação, análise, avaliação e, no topo da pirâmide, a criação. A atividade escolar cujo tema – escolhido na matriz (Base Nacional Comum Curricular, nas áreas de conhecimento: linguagens, e no componente curricular: língua portuguesa) – a crônica: meio pelo qual traz à lembrança a carta (origem do romance epistolar, das comunicações virtuais na contemporaneidade).

E nas toldas de feira, no sertão,
é aqui onde o povo se expressa
ao retratar figuras em cerâmica.
O povo sabe: toda feira é festa,
toda festa se diz ser a grã feira.

Freire, quando adjetivo de plano,
escreve-se freireano ou freiriano?
E nietzscheano, quando Nietzsche,
nietzschiano é melhor se escrever?
Talvez só outro processo kafkiano.

Cada processo de aprendizagem, nas áreas de conhecimento (linguagens) e no componente curricular (língua portuguesa), relaciona-se com lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar. Freire ensina que curiosidade move a criatividade. Como o planejamento de ensino pode exercitar a curiosidade intelectual ao aluno? Tudo o que acontece na escola é currículo escolar com diferentes tipologias. De que maneira o planejamento alerta ao aluno meio de reflexão, análise crítica, imaginação e criatividade? Toda aprendizagem surge do espanto, da curiosidade.

Semântica diz-se só no sentido;
sintaxe diz-se em sua estrutura;
pragmática sol na comunicação;
morfologia a forma das palavras;
fonologia diz-se o som da língua;
fonética surge nos sons da fala.

Equilibram-se na medida uns versos
ignorando no século XVIII as rimas;
já outros que se mantêm irregulares
e, por natureza, ignoram a métrica:
ditos livres. Estes? Só na aparência,
porque jamais deixam suas estrofes.

Se semântica cabe à escola,
sintaxe preenche cadernos,
pragmática o entendimento;
morfossintaxe a fala mostra;
fonologia é os sons na feira;
fonética deixe-a aos poetas.

Feito o fabulista de “Caetés”, Alagoas expressa-se tão bem ao mundo pela literatura. Santana do Ipanema, Terra de Escritores, é vocacionada à crônica; as escolas santanenses sabem: unimo-nos em defesa dos cronistas na escola como pedagogia pela qual o aluno comunica-se com a cidade narrando situações cotidianas, como ocorrem nas cartas, obedecendo a seu tempo cronológico, como ocorrem nas cartas, escrevendo textos breves, como ocorrem nas cartas, numa linguagem compreensível, como ocorrem nas cartas, numa comunicação facilmente compreendida como a noite de luar no sertão.

Lua delgada no céu,
risca o lápis de cor
e desenha no papel:
Amar ama-se amando.
Lua um fio de linha;
noite dizendo à lua:
Logo vai voltar o dia.

E como na feira se canta
o cantador de embolada
vai fazendo do improviso
seu ganha-pão e morada;

e nesses versos ligeiros
em soneto improvisado:
Por que o planejamento
aos exercícios docentes?

Quando tudo é permitido;
qualquer pão já alimenta;
Ninguém ri dum Polifemo.

Se usa tão folgadamente
nas aulas pra se ensinar
uns assuntos do repente.

Ensino de língua portuguesa quer formar alunos leitores e produtores de textos em diferentes contextos. Apresenta-se com a função de privilegiar os gêneros textuais, bem como contemplar os novos letramentos na realidade digital. Destaca-se, entre os diferentes artigos, o artigo 13, inciso III, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sobre o papel da docência e sua responsabilidade legal em zelar pela aprendizagem do aluno.
Crônica de seu tempo as cartas de Graciliano Ramos. Objeto de conhecimento requer os objetivos de aprendizagem: geral/específicos e se alcançar resultados de acordo ao planejamento de ensino e ações que possibilitem a aprendizagem. Sem se descuidar dos critérios a serem observados pelo professor ao planejar, tendo a responsabilidade ética e legal de estar incumbido de zelar pela aprendizagem do aluno em seu plano de aula. Com vivas à crônica, escola encontra na língua meio de disciplinar a habilidade; e a aprendizagem encontra no aprender meios de seguir aprendendo.

M. Ricardo-Almeida

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