TURISMO? PORQUE NÃO?

Crônicas

Manoel Augusto de Azevedo Santos

Pode parecer estranho e descabido para muitos admitir que Santana do Ipanema possa se tornar um pólo turístico, e tanto isso é verdade, que nenhum plano estadual ou municipal ousa citar o médio Sertão como área potencialmente turística.



O Alto Sertão, leia-se Piranhas e, timidamente, Delmiro e Água Branca, já mereceu algum destaque, porém, sem nenhuma ação significativa até o momento, em que pese a beleza da região, tendo nela encravado um complexo hidroelétrico com seis usinas, destacando-se a de Xingó, a terceira maior do Brasil em geração de energia, cuja represa, proporcionalmente, é a menor entre as grandes usinas brasileiras, acarretando por sua vez, um impacto ambiental significativamente menor.



As águas de Xingó represam no próprio desfiladeiro, transformando a paisagem de um dos mais longos “canyons” do Brasil de outrora num lago propício à prática de esportes náuticos e da pesca, principalmente esportiva. O Estado da Bahia já há 50 anos vem investindo no turismo da região, tendo a bela cidade de Paulo Afonso como pólo irradiador. Sergipe por seu lado tem investido também, através de estudos e pesquisas antropológicas e culturais, em projetos de irrigação e estrutura turística – hotéis, rotas, programas e divulgação. Do lado de Alagoas apenas possibilidades alimentadas por aqueles que tem visão pragmática a respeito.



Turismo, do francês tourisme, deriva de “tour”, etimologicamente do grego “tornos” e do latim “tornare”, que significa “giro”, “volta”, “passeio”. O sufixo “ismo” significa ação ou processo. Popularmente, turismo é a atividade das pessoas que viajam por períodos curtos, para fins esportivos, culturais, científicos, de aventuras, de peregrinações religiosas, de visitas a parentes, de tratamento de saúde, de repouso, de lazer e de negócios.



Os dicionaristas economizam palavras e definem turismo simplesmente como “viagem de recreio”.Segundo a OMT, turista é todo o individuo que viaja de um “lugar” onde tem seu habitat, para um outro, lá permanecendo pelo menos por um pernoite e no máximo por um ano, cujo motivo principal não seja exercer atividade remunerada nesse outro lugar. Por exclusão, qualquer outro motivo de viagem se enquadra na atividade turística.



Assim sendo, o médio Sertão, tendo Santana do Ipanema como pólo, se enquadra por inteiro nessa tese. Possui um paisagem nativa degradada, porém ainda capaz de despertar, nos mais sensíveis, os sentimentos de amor, de observação e de conservacionismo da natureza, cuja beleza é expressa na topografia, na vegetação e nas relações ecológicas, destacando-se a riqueza cultural, com manifestações variadas: dança, música, arte popular, gastronomia e os usos e costumes. Associados a esses motivos, estão os negócios, o turismo cultural e educacional e o aumento do turismo saúde com a inauguração do hospital regional. A médio prazo, o Canal do Sertão deverá proporcionar grande expansão do turismo de negócios e, por conseqüência, da atividade econômica regional.



Foi raciocinando por essa ótica que se construiu nos anos oitenta, – na chamada década perdida, o CENTRO COMERCIAL VICTÓRIA RÉGIA, época de raríssimos investimentos na cidade. A chegada do CCVR inspirou o surgimento de quase uma dezena de pequenas galerias com fins comerciais e estimulou a modernização de lojas e butiques. Em 1994 foi construída a ESSER, que também proporcionou significativo impulso ao “turismo educacional e cultural”, com reflexos na economia micro regional. Agora, em pleno inicio do novo milênio, antevemos boas possibilidades de progresso para a região, a se concretizarem graças aos projetos em andamento, entre os quais o funcionamento do HOSPITAL REGIONAL, a construção do CANAL DO SERTÃO, a implantação de uma unidade do CEFET e de um pólo da UFAL em Santana do Ipanema.



Nesta onda positiva, outros empreendimentos estão surgindo, como pequenas fábricas lideradas por jovens santanenses e o MOINHO DE PEDRA CLUBE DE CAMPO, cujo investimento previsto é da ordem de R$ 500.000,00. Trata-se de um balneário com piscinas, escorregadores aquáticos, campo de futebol social, quadra em areia, parque infantil, restaurante e lanchonete. Na segunda etapa, pesque e pague, salão de convenções, chalés, quadra de bocha, parede de escalada, tirolesa e outras atrações.



Assim, embora devagar, devagarinho – como diz a canção de Martinho da Vila, vai-se construindo um mosaico estrutural capaz de transformar a região num pequeno, porém sustentável, pólo turístico.



Corroborando com essa idéia, não podemos deixar de relacionar as pesquisas paleontológicas no município de Maravilha e o esforço cultural que vem sendo feito em Poço das Trincheiras, além, claro, das belezas das Serras do Poço e da Caiçara, esta última, considerada uma bela plataforma para a prática de esportes de aventuras, inclusive para decolagem de asa deltas.

Cada empreendimento é uma aposta, um gesto rumo ao futuro fundado na percepção dos recursos potenciais que temos a nossa volta. Cabe ao cidadão, consciente do seu papel de construtor do futuro, olhar além, independente das manifestações políticas, pois essas corriqueiramente andam a reboque.

Alguém duvida?

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