O MUNDO É MÁGICO. E MÁGICO PORQUE REAL

Maria Lúcia Nobre dos Santos

O mundo é mágico. E mágico porque real
(Guimarães Rosa)

Caminha-se com a imaginação e faz-se da prosa uma melodia quando se quer cantar sua raiz. Nascer no sertão é embrenhar-se em sua alma rústica que precisa ser lapidada e amada. Cada um nasce com sua marca de nascença. E o sertanejo já é marcado com um sentimento de amor à sua querida terra. O sertanejo fala com a alma, vive ou viveu em um mundo que é seu e dos seus. Se não fosse assim, ficaria sem sentido o amor que temos a nossa querida Santana do Rio Ipanema, cidade que se torna mágica de tão real. O que vivemos em nossa infância ou em toda vida, motivam lembranças, alimentando saudades. Chãos secos, pedregulhos machucando nossos pés, lábios ressecados de sede, poeira em redemoinho, em tardes solitárias nas estradas e nas ruas; ou, chuvas, trovoadas, cheiro de terra molhada, meninos e meninas alegres tomavam banho nas bicas das casas, em ruas de minha cidade; mulheres nas calçadas saudavam vizinhas pela água que caia nas cisternas.
Não temos saudades da água que faltava nos potes; temos boas lembranças do nosso Rio Ipanema sangrando; não sentimos falta da televisão recém-chegada, que mal dava para enxergar as imagens; temos recordações das brincadeiras nas ruas; a garotada corria feliz, despreocupada e os pais conversavam nas calçadas; é muito bom lembrar dos jornais com as listas dos aprovados no vestibular da UFAL, que alegria para todos de Santana; não sinto saudade da candidatura pelo partido ARENA; sinto saudades dos grêmios estudantis, culturais do Colégio Estadual de Santana; a Cruzada Eucarística Infantil, coordenada por Dona Marina Marques, foi importante para as crianças; não posso deixar de lembrar do coral organizado por Dona Maroquita Bulhões, nos ensinou o senso de responsabilidade; festa de Natal não queria dizer presentes caros, o que nos encantava era o bazar que ostentava calungas de celulóide, brinquedos que maravilhavam as crianças; parque de diversões: roda gigante, curre, onda, barcos, divertimentos que não faltavam; cédulas novinhas em folhas que eu e meus irmãos ganhávamos de Tio Jonas Pacifico, para gastar na festa de Natal; o gostinho da roupa nova e do sapato com cheiro de novo, especiais para a festa de Natal; os pastoris inesquecíveis que alegravam os santanenses; meia noite a Missa do Galo, campal, com a música “Noite Feliz”; depois da missa do galo, o jantar ou o lanche com a família e depois, o sono do justo.

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