MENINA VENENO

Fábio Campos

A representação máxima do amor entre duas criaturas, revelado está para sempre e eternizado na maior história de amor de todos os tempos, Romeu e Julieta, de Sheakspeare. O romance que tem como cenário uma cidade européia do período medieval. Desde então nunca duas pessoas que se amam chegaram a demonstrar tanto amor um pelo outro como naquele folhetim. Não até descobrirmos em Santana do Ipanema um rapaz que chamaremos apenas de Roberto, pra quiçá, preservar sua identidade.

Muito embora, não demoraria muito, e ninguém mais o chamaria pelo seu nome de batismo, devido ao excêntrico apelido que ganharia, por conta de uma extremada declaração de amor que um dia daria de demonstrar por sua amada. Pois então contemos este idílio desde o começo.

Teve um tempo que o professor Gileno Carvalho, além da sua Vidraçaria, tinha uma serralharia que funcionava na travessa professora Josefa Leite. Nosso personagem que supostamente chamá-lo-emos Roberto, trabalhava como auxiliar de serralheiro, também fazia parte da equipe, nosso amigo Brito Minininho, que por ser uma pessoa muito expansiva, gozava de ter a amizade de todos os colegas de trabalho. A cada final de dia de labuta, os adeptos da-água-que-passarinho-não-bebe, diga-se de passagem a equipe toda, iam inicialmente pro bar de Quiterinha, depois pro Bar do pai de Lula Santana, depois pro bar Comercial. Enfim, faziam a romaria por todos os bares da cidade, enquanto tivesse quem se suportasse em pé.

Um dia Roberto se apaixonou por uma garota moradora da Rua Professor Enéas, a mesma rua que o gajo morava. A paixão que havia dilacerado seu coraçao fazia o rapaz trabalhar sorrindo, a ponto de um dia num momento de folga, confeccionar um coração de ferro com o nome da amada dentro, pra dar-lhe de presente. A entrega do presente teria sido acompanhada de uma declaração do tipo: “Esse aqui pode até se acabar, mas o amor que eu sinto por você esse não tem ferrugem que acabe!” O rapaz trabalhava ansioso aguardando a hora de largar, pra ir correndo cair nos braços da amada.

Mas eis que um dia o moço ao retornar do trabalho, e da jornada etílica na companhia de Menininho e seus colegas, deu de cara com a sua amada nos maiores beijos e abraços com outro. Ó que mundo cruel! Pensou Roberto, nada mais vale a pena, não tenho mais porque continuar vivendo! Vou me matar! Foi até uma Casa veterinária e comprou veneno de matar rato. Entrou num boteco na cabeça da ponte, pediu uma lata de Pitú tomou todinha, pra dar coragem. Depois danou-se a beber cerveja. Por fim, quando já ia quase numa grade consumida, no copo cheio da gelada colocou o conteúdo da embalagem do raticida. Encarnando Otelo o mais famoso personagem de Hamilet, fazia a si a grande pergunta adaptada a sua realidade: “Tomar ou não tomar eis a questão!”. Resultado tomou. Mas o veneno junto com a manguaça causou uma reação no mínimo inusitada, o rapaz primeiro deu quatro pêidos, depois botou pra vomitar, se mijou e por fim uma diarréia violenta que deixou-lhe todo cagado, mas morrer que é bom nada!

Resultado, foi levado pra casa e no dia seguinte estava novamente no batente, pois a vida (Fazer o quê) continuava. Inspirado na música de Lionel Ritche sucesso das paradas na época, os colegas colocaram-lhe o sugestivo apelido de Menina Veneno.


Fabio Campos 07/09/2011 Conto inédito SANTANA no fabiosoarescampos.blogspot.com

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