A FLORA E O FLORO DA CAATINGA

Fábio Campos

É pra você Rogival Chagas que dedicamos esta crônica! Você é um menino de Deus viu?

A Caatinga é um ecossistema onde predomina um tipo de vegetação bem característico. Nela ocorrem duas estações do ano bem definidas, seca ou estiagem e inverno ou período chuvoso. Na estiagem predominam as cactáceas, uma vegetação adaptada ao período escasso de chuvas que possuem a capacidade de acumular água. O mandacaru, o xique-xique, o rabo de raposa, a coroa de frade. E tem os rústicos mulungu, o mororó, o faxeiro, o aveloz, a craibeira.
O umbuzeiro tem um tubérculo na sua raiz que acumula água. A bucha de prato vegetal, muito útil nas cozinhas das casas é uma trepadeira. O côco de arroto, é aquele coquinho ouricuri, engolidos pelos bovinos que ruminam e o expelem sem a casca superficial. A berduega era complemento na comida de suínos. A catingueira servia de forração nas vasilhas que se transportavam ovos ou qualquer coisa frágil do sítio pra cidade. A casca de angico é usada pra dar cor, ao couro de boi nos curtumes.
A caatinga, faz parte de nossa vida, mesmo urbana, inclusive denominando ruas e povoados, isso comprova que nossa ocupação humana, invadiu uma área desse ecossistema: Bairro Maniçoba, Rua do Velame, Rua da Baraúna. Povoado Quixabeira Amargosa. Lagoa do Junco. É desses juncos, que se extraem os talos pra fazer gaiola. Olho-de-boi, era um caroço que as crianças brincavam. O leite de labirinto se caísse no olho cegava! A urtiga e o rasga-beiço evitava-se tocar. A Mamona fiquei sabendo agora, pela crônica de Rogival Chagas, é perigosa se ingerida. Do juazeiro extraía-se a entrecasca que serve para limpar os dentes, era assim que os cangaceiros mantinham os dentes limpos.
No quintal de nossos vizinhos, dona Aída Malta, mãe de Homero, Benedito e Telê, tinha um pé de trapiá. Já na casa das Marques (Marina, Carmelita, Landelina) tinha um pé de tamarindo. Na casa de Dona Maria Laranjeiras mãe de Benga, Zezinho Budega, Zaira e Tania tinha um pé de coração da índia (graviola). Na casa de seu Dota, as goiabeiras dos nossos sonhos. Na frente da prefeitura ainda hoje tem, preservado do passado, um pé de castanhola (amêndoa).
Plantas medicinais: O Samba-caitá era usado na cura do sarampo e catapora, doenças da infância. Sobre o matinho usado pelos rezadores e rezadeiras. As pessoas dizem ficou tão murcho! É porque tem muito olhado! Puro folclore! Qual é o galho de arruda, ou seja lá de que mato for, que depois de arrancado do pé, e de muitas batidinhas fazendo cruzes sobre a fronte de alguém que não fique murcho!
E o Floro, é meu velho sogro. Aliás, o batizaram Flores Vieira Rêgo. Que nome arretado! Agricultor por profissão, sertanejo de nascença. Ele mesmo diz que não troca a vida da caatinga pela vida na cidade, de jeito nenhum. No seu modo de falar simples, entre uma baforada e outra, de um “braço de Juda”, cigarro de fumo de rolo, confidencia:
- Não tem coisa melhor nesse sertão, do que dá uma boa cagada, em baixo de um pé de imbuzeiro, noite de lua, sentindo aquele ventinho soprando na boca do “bueiro”, e depois fazer o asseio com um sabugo de milho.
-Vôte Floro! Por que um sabugo?
Quero saber.
-Porque tem três utilidades: Limpa, coça e penteia.


Fabio Campos 18/02/2010
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