O REI DO RÁDIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 20100
Com o histórico sobre Nelson Gonçalves apresentado na TV, no último fim de semana, voltamos a mergulhar no romantismo. Vou-me transportando para 1958, em Santana do Ipanema, Alagoas, administração Hélio Cabral de Vasconcelos. A rede de alto-falantes nos postes da cidade, divulgando notícias mescladas com músicas de gente famosa, entre elas, Nelson Gonçalves, vai recheando os meus sonhos dos doze anos de juventude.
Nasceu Antonio Gonçalves Sobral, de pais portugueses, em terras gaúchas em 21 de junho de 1919. Seus pais mudaram-se para São Paulo, onde o menino Antonio cantava na rua ao som do violino de seu pai que fingia um cego. Mas o garoto e rapaz ainda iria exercer várias profissões para chegar aonde chegou. Foi jornalista, mecânico, engraxate, polidor e tamanqueiro, lutador de boxe peso-médio, garçon e vocalista de cassino famoso. Foi reprovado em vários programas de calouros, como cantor. Antonio casou-se três vezes. A primeira, com Elvira Molla, da qual teve dois filhos. Partiu para o Rio de Janeiro em 1939, onde também não teve êxitos em muitos programas de calouros. Com uma persistência impressionante, Nelson Gonçalves só conseguiu gravar seu primeiro disco em 1941. Fez contrato com a poderosa Mayrink Veiga e seguiu pela escola de gente consagrada como Orlando Silva, Francisco Alves e Carlos Galhardo. Foi aos poucos reunindo essas preferências de público e tornou-se único, fazendo formidável sucesso nos anos 40 e 50. Nos anos 40 apresentou páginas inesquecíveis da MPB como “Maria Bethânia” (Capiba) “Normalista” (Benedito Lacerda/David Nasser) “Caminhemos” (Herivelto Martins) “Renúncia” (Roberto Martins/Mário Rossi). Nos anos 50, com muito mais força, saíram “Última Seresta” (Adelino Moreira/Sebastião Santos) “Meu Vício é Você” e “A Volta do Boêmio” (ambas de Adelino). Eram essas e outras músicas dessas duas décadas que faziam sucesso no Brasil e, particularmente no sistema de alto-falantes, referido acima, instalado em Santana do Ipanema entre 1956-60. Nelson enfrenta o casamento pela segunda vez, unindo-se a Lourdinha Bittencourt em 1952, cuja união durou até 1959. Em 1965, casa com Maria Luíza da Silva Ramos e com ela tem dois filhos.
Em 1958, Nelson envolve-se com a cocaína. Sua vida pessoal e carreira começam a sofrer as consequências. É preso em casa na vista dos filhos em 1965 e passa um mês amargando na Casa de Detenção. Após a crise, o cantor lançou a música: “A Volta do Boêmio” nº 1, que foi um sucesso absoluto. Nelson continuou gravando nos anos 70, 80 e 90, quando a morte o surpreendeu em 18 de abril de 1998, com um infarto agudo do miocárdio. Estava no apartamento da filha Margarete no Rio de Janeiro. Despediu-se da vida aos 78 anos de idade.
Nelson Gonçalves gravou mais de 2.000 canções, 183 discos em 78 rpm. Vendeu 78 milhões de discos, ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Em Santana do Ipanema, apresentou-se no cine-Alvorada na fase aguda do vício. Até o presente momento ninguém conseguiu chegar nem perto do vozeirão de Nelson Gonçalves que continua encantando o romantismo musical nos discos que se vão modernizando. Saudades do REI DO RÁDIO.
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