NOSTALGIAS CULTURAIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de janeiro de 2011)
O caso do Cine Belas Artes, da cidade de São Paulo, casa de espetáculo de longa tradição, virou manchete nacional. Os antigos cinemas, centros de tantas histórias de lazer, amores e romantismo da segunda metade do século XX, foram quase todos dizimados após o advento da televisão. A telinha vista da poltrona, também foi arrasando sem querer outras expressões da cultura popular como os folguedos que decoravam as ruas, praticamente o ano todo. Os grandes bailes da época, realizados nas capitais e nas médias cidades interioranas, foram interrompidos com suas inolvidáveis orquestras. As positivas ações da TV e de outras tecnologias, engoliram teatros e mesmo acontecimentos religiosos que se tornaram indiferentes, trocados pelo comodismo de casa. Para o tradicional mundo da Cultura, cada teatro fechado, cada orquestra desfeita, cada cinema vencido, representa a morte de um parente, a agonia de uma estrela magnífica.
Em Santana do Ipanema, capital do Sertão alagoano, já havia teatro desde os tempos de vila, isto é, antes de 1921. Em 1952, também funcionava um cinema, pertencente ao cidadão José Fialho, no mesmo lugar onde funcionara o teatro, no famoso “sobrado do meio da rua”. No ano seguinte Santana se dava ao luxo de possuir dois cinemas que passavam filmes como Tarzan e Rock Lane. Depois vieram os cinemas de prédios fixos em algumas cidades sertanejas. Após o auge da sétima arte, todas as tradições foram murchando com o progresso, assim como vão fenecendo as rosas de um jardim abandonado. Saudosamente cerraram suas portas os cines Glória e Alvorada, em Santana, o Cine Pax em Pão de Açúcar, outro cine em Major Isidoro e assim por diante. Tantos os palcos dos cinemas de Major Isidoro, na Bacia Leiteira, quanto o da cidade ribeirinha de Pão de Açúcar, acolheram e muito bem a nossa “Equipe XVI”, fundadora do quarto teatro de Santana, sob o comando meu e de Albertina Agra, com a peça de Martins Pena: “Irmão das Almas”.
Em São Paulo, o Cine Belas Artes tornou-se ponto dos aficionados que preenchiam parte da noite naquele particular prazer. Como o dono atual do prédio pediu o espaço de volta, formou-se um frenesi no mundo da Cultura, em busca de salvação. Ultimamente duzentas pessoas protestaram sob o vão livre do MASP ─ Museu de Artes de São Paulo. Dizem que o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico vai votar o seu tombamento. De qualquer maneira, a dimensão do caso fez movimentar interesses adormecidos. É pena não ter encontrado agitação semelhante em todas as cidades brasileiras onde tinham prédios de teatros e cinemas. Mesmo parados, representariam verdadeiros museus e atrações para o turismo cultural de cada um desses municípios. E como o que é bom é para poucos, vamos torcendo para que haja sucesso na preservação do Cine Belas Artes. No momento é o nosso representante guerreiro, cujos dramas despertam fundo NOSTALGIAS CULTURAIS.
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