CONHECENDO O SERTÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.3.2010)
Uma vida inteira dedicada à Geografia esbarrava em várias situações interessantes. Quando resolvíamos pesquisar em outros municípios, a preferência caía sempre em cidades banhadas por rio ou pelo mar. Atuando em inúmeras escolas de Santana do Ipanema, a opinião comparativa era sempre a mesma. As campeãs dos destinos de excursões foram seguidamente as dos acidentes geográficos citados. O lazer sempre esteve por trás das intenções da pesquisa em 99% dos casos. Pouco adiantava o argumento do professor sobre o conteúdo. Assim existiu sempre um círculo vicioso em todas as escolas de Santana em cima do tripé: Maceió, Xingó e Paulo Afonso. Depois vinha Penedo e só. Lembramos que, como rara exceção, fizemos um levantamento sócio-econômico na cidade de Ouro Branco que foi um sucesso absoluto.
Se a preferência dos alunos é pelos acidentes citados, isso quer dizer que não existe interesse nenhum do jovem conhecer cidades sertanejas sem rios perenes. Citando Santana do Ipanema como exemplo, é grande o número de santanenses que não conhece Mata Grande, Inhapi, Poço, Maravilha, Canapi, Santa Cruz do Deserto e assim por diante. É que esses municípios, para Santana, são chamados de contramão porque não ficam na linha Santana-Maceió. Assim o santanense nasce, cresce, morre e deixa de conhecer sua vizinhança. Assim é com Santana em relação à Palmeira dos Índios, contramão fora do eixo Palmeira-Maceió. Ora, se nós alagoanos, adultos e estudantes, não conhecemos municípios circunvizinhos, imaginem em relação às 102 cidades localizadas em diferentes regiões. Como amar Alagoas se conhecemos apenas oito ou dez cidades? Em se tratando especificamente do Sertão, nunca soube de projeto nenhum que levasse a nossa juventude a visitar, pesquisar e conhecer os nossos municípios sertanejos. Os prefeitos, através de seus departamentos de Educação e Cultura sempre foram omissos nesse sentido. Existe uma desunião histórica em solo sertanejo, que permite a manipulação governamental pelo desprezo à região. Mas a culpa não é só de governadores. A culpa maior é da individualidade enraizada de cada governante municipal. O Sertão nunca teve força política porque é desunido. Se a palavra não for essa, é acomodamento no cargo que isola o indivíduo. Inúmeros pontos poderiam ser citados aqui como o item do início, mas citemos apenas o caso do Hospital Regional de Santana. Se o Sertão estivesse coeso aquela unidade já estaria funcionando e servindo a quinze ou vinte municípios. Mas o que lemos por aí são as trocas de acusações de desinteresse e de individualidade. Precisamos de uma política sertaneja para estimular visitas mútuas divulgadoras da história, da Geografia, da Cultura da gastronomia e encanto de cada uma das cidades alagoanas distantes do mar. Ah! Como tem coisas para serem ditas, pesquisadas e amadas. Se as escolas não estimulam às visitas e os prefeitos não despertam para o assunto, as nossas vizinhas serão apenas ilustres desconhecidas para nós e nós para outras co-irmãs. Hoje só os vendedores estão CONHECENDO O SERTÃO.
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