A REVOLTA DA CACHAÇA

Clerisvaldo B. Chagas

A REVOLTA DA CACHAÇA
(Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2011).

Não sei quantas pessoas bebem no Brasil, nem quero saber, mas que a coisa é séria é. A onda avassaladora não respeita sexo nem idade e não existe fabricante nesse país que consiga encalhar mercadorias. Quanto mais se fabrica mais se bebe. Já contei a história do vereador que em outra época nos convidou a visitar o seu engenho, em Boca da Mata, cidade de Alagoas. Ao chegarmos à casa do homem, ele nos levou para um amplo galpão atrás de casa, colocou aguardente numa vasilha e limão aberto num pilão manual, colocou açúcar, pegou a mão de pilão, começou a moer e nos deu a provar aquela verdadeira delícia. Eu, sendo sertanejo e esperando ver muitas máquinas trabalhando naquele lugar da Zona da Mata, fui surpreendido quando o vereador disse que seu engenho era aquele artefato de fazer caipirinha.
Como deve acontecer em todas as cidades do Brasil, os viciados aguardam o amanhecer nas imediações das bodegas e bares. Um desses pontos “alugados” é a Praça Frei Damião, em Santana do Ipanema. As quatro da matina já tem gente aguardando companhia pelas imediações. Olho comprido no barzinho que abre cedo, lá na frente. São os chamados “pés na cova” que desafiam o golpe final da “moça branca”. Tristes cenas que bem caracterizam a fraqueza humana.
Na costa da África, a aguardente era chamada de “Jeribita”, cujo sabor agradava bastante o paladar dos nativos. A principal região produtora de cachaça na América era o Rio de Janeiro, mas havia fabrico espalhado por vários lugares, chamados engenhocas. Essa cachaça, juntamente com o tabaco produzido principalmente no recôncavo baiano, Pernambuco, Maranhão e no próprio Rio, serviam de moeda de troca para o comércio escravagista com a África. A coroa portuguesa, para proteger seus destilados vinícolas, proibiu o fabrico da aguardente no Brasil em 1647. Mesmo assim a aguardente de cana continuou sendo produzida, principalmente depois da expulsão dos holandeses, 1654. O jeitinho brasileiro continuava até que em 1659, nova lei de Portugal manda destruir todos os alambiques. O Rio tentou uma saída, deixando as engenhocas em paz, contanto que se pagasse uma alta taxa para a administração da colônia. Foi aí quando explodiu o que ficou registrado como a Revolta da Cachaça.
A sociedade brasileira pouco tem feito por essas criaturas que tanto precisam de ajuda. Contudo, piadas sobre português, papagaio e bêbados, são produzidas com as mesmas velocidades dos alambiques. No Brasil também já houve inúmeros levantes com as mais diferentes denominações. Com toda a certeza, se fossem contados esses episódios com a “Jeribita” brasileira aos “pés na cova” da Praça Frei Damião, haveria um preito significativo aos que fizeram a REVOLTA DA CACHAÇA.





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