O dourado e a matrinxã são peixes de espécies nativas do rio São Francisco bastante apreciadas ao longo da bacia, mas que hoje já não são tão facilmente encontradas como antes. Para reverter esse quadro, o Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco, executado pelo Ministério da Integração Nacional, por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), investe na tecnologia de reprodução artificial para produção de milhares de alevinos dessas espécies que serão inseridos no ?Velho Chico? por meio dos peixamentos públicos realizados pela companhia.
Em Alagoas, a reprodução artificial de espécies nativas do chamado ?rio da Integração Nacional? ocorre no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba (5ª/CII), centro tecnológico da Codevasf situado no município de Porto Real do Colégio (AL). O processo de reprodução artificial tem início com a estimulação da ovulação da fêmea. ?Essas espécies são peixes de piracema, que necessitam fazer grandes migrações como estímulo natural à ovulação. Por isso, precisamos induzir artificialmente o processo?, explicou Sérgio Marinho, engenheiro de pesca da Codevasf que atua no projeto de reprodução artificial em larga escala do dourado e da matrinxã, juntamente com o também engenheiro de pesca da Codevasf Kley Lustosa e demais técnicos do centro tecnológico. Em seguida, é realizada a retirada de esperma no macho. Aproximadamente 35 dias após a fecundação, os dourados e matrinxãs já estão prontos para serem inseridos no rio São Francisco.
Sérgio Marinho explica também que a reprodução artificial dessas espécies é muito complexa devido a características naturais dos animais. ?Tanto o dourado, quanto a matrinxã são espécies carnívoras na fase de larva. Dessa forma, para produção em larga escala, também é necessário produzir em larga escala larvas de outras espécies, como o piau, para que sirvam de alimentos. Mas a quantidade de larvas que alimentará os dourados e matrinxãs deve ser bem superior para reduzir a possibilidade de canibalismo com os animais alimentando-se de exemplares da mesma espécie. Outro fator que torna o processo complexo é que cada peixe fêmea consegue realizar apenas uma desova por ano, o que torna a reprodução mais espaçada?, esclareceu o engenheiro de pesca da Codevasf. Ele ainda acrescentou que diferente do dourado, a matrinxã, após a fase de larva, não será mais carnívora, e sim onívora, alimentando-se tanto de produtos de origem animal, quanto vegetal.
De acordo com o superintendente regional da Codevasf em Alagoas, Luiz Alberto Moreira, a meta do programa é produzir e inserir, inicialmente, 100 mil alevinos de dourado e matrinxã até o início de 2013. ?Hoje conseguimos uma produção em torno de 50 mil alevinos de cada uma das espécies, contra um média anterior de produção de 4 mil anuais devido às dificuldades de aplicar a reprodução artificial a essas espécies. Temos a previsão de que, em até cinco anos, o estoque pesqueiro de dourado e matrinxã no rio São Francisco tenha aumentando. Acreditamos que, com a intensificação da reprodução artificial de espécies nativas e os peixamentos que realizamos, espécies nativas, antes raras e até extintas na bacia, possam voltar a aparecer nas água do rio e na rede dos pescadores?, declarou.
O Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba da Codevasf atua também com pesquisa científica e produção de tecnologia para a revitalização do rio São Francisco. Outra linha de atuação é a transferência de tecnologia a aquicultores empresariais e familiares como forma de fortalecer essa atividade econômica em municípios do vale do São Francisco alagoano. Para isso, a unidade realiza capacitações e presta assistência técnica aos produtores.
Mais informações: www.codevasf.gov.br
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