No dia 15 de novembro de 2018, a partir de um artigo do Pe. James Teixeira da Costa, da diocese de Brejo, publicado no site www.frontcatolico.com.br, no dia 12 desse mesmo mês, sob o título: “Por que 17 padres se suicidaram no Brasil entre 2017 e 2018?”, resumi tudo o que ele disse na frase do próprio artigo: “A vida religiosa não dá superpoderes aos padres, pelo contrário, eles são tão falíveis quanto qualquer leigo”, elaborei o texto “O PADRE É UM HOMEM, NÃO UM SUPER-HOMEM e publiquei no perfil do meu Facebook e no Portal MALTANET.
Na primeira semana de fevereiro, de 2022, vi, li e ouvi em vídeos divulgados pela mídia a triste notícia do suicídio do Pe. Geraldo de Oliveira, Vigário Paroquial da paróquia de São Sebastião de Surubim/PE, Diocese de Nazaré. A foto do corpo, já sem vida, desse sacerdote entre os bancos da Igreja, sua pasta sobre um desses mesmos bancos, uma espécie de travesseiro sob sua cabeça deixou-me angustiado. Mais um que não suportando a pressão exercida sobre ele, cedeu a essa tentação de tirar a própria vida... A carta que foi achada junto ao corpo, dá pistas do que pode ter contribuído para esse desfecho da vida temporal de um homem que dedicou 50 anos de Sacerdócio Ministerial à Igreja. Triste... Extremamente triste.
Lembrei-me do Pe. Ivanilton de Assis, carinhosamente chamado de Pe. Tito, daqui da Diocese de Palmeira dos Índios que, por motivações psiquiátricas, igualmente atentou contra sua própria vida no início de novembro de 2009. Também esse sacerdote deixou uma carta, na qual tive acesso ao seu conteúdo onde ele, mesmo no extremo da angústia, despediu-se “amavelmente” de todos os presbíteros, incluindo o Bispo, concluindo com um “nos encontraremos na eternidade”.
Nesse caso atual, o que mais me deixou triste foram os problemas enfrentados, conforme relato na tal “carta testamento” assinada pelo próprio. Li e reli várias vezes para tentar assimilar os dois lados. O lado do suicida e o lado oposto, embora não conheça nenhum dos indicados na tal carta.
De qualquer forma, minha caminhada na vida de padre diocesano a mais de vinte e seis anos me fez ver, ouvir e sentir muitas coisas que me agradaram e outras tantas que me desagradaram.
Na teoria, fala-se da existência de uma fraternidade sacerdotal nas dioceses, mas na prática, há apenas e tão somente afinidades e, claro, respeito – logicamente com algumas exceções...
Outro dia ouvi alguém do clero afirmar que só quem entende o sacerdote é outro sacerdote. Com todo respeito, discordo plenamente. Quem quer que seja que esteja passando por um momento de crise, seja Sacerdote ou não, só vai ser entendido por outra pessoa que esteja disponível a ouvir e dialogar sadiamente, independentemente de ser ou não Sacerdote.
Assim como qualquer mortal, se o Padre se deixar ser arrastado pelos problemas, corre sim o risco de chegar ao ato extremo que é o suicídio.
Precisamos nos conscientizar de que a Igreja é santa mais pecadora. Assim como em todas as instituições sejam religiosas ou laicas, existem pessoas boas e más. É complicado, mas necessitamos nos conscientizar dessa verdade.
Conforme afirmei no texto de 2018, o Padre não é um super-homem como muitos imaginam. Apesar de ser um escolhido por Deus para ser “Sacerdos in aeternum”, é um homem como os outros, com suas qualidades, defeitos, conceitos preconceitos... Em Mc 10,29-30, Jesus afirmou: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pais, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante essa vida – casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna.”
A questão é que muitos não os vê dessa forma. Acham que o Sacerdote não pode cometer erros, ou mesmo que esteja imune as intempéries do existir. Esquecem-se de que ele tem uma responsabilidade imensa em relação a parcela do povo de Deus, que lhe é confiado.
Se numa família humana comum já é tão complexa a administração, na família maior, a comunidade essa complexidade é bem mais ampla.
O Padre deve cuidar constantemente de sua saúde espiritual, corporal e mental... ele, como humano que é, tem seus momentos de fraqueza. Por isso mesmo deve tomar cuidado para não somatizar os problemas daqueles que o procura. Isso irá ajudá-lo muito a superar os momentos de fraqueza, dor, sofrimento. Deve buscar em Jesus Cristo, sobretudo eucarístico a força de que necessita para essas superações.
Justamente por ser humano e não divino como muitos pensam, o Padre não está livre de passar por algum momento depressivo. Isso não significa dizer que ele não tenha vocação. É uma prova de que ele é, de fato, humano.
Trabalhando o humano, certamente os fiéis e a Igreja, como instituição, só tem a ganhar. Isso não somente os Sacerdotes, como também os Bispos têm que entenderem. Priorizar a instituição, corre-se o risco de se tornar legalista, farisaico como no tempo de Jesus, onde a Lei superava o mandamento do amor.
Outro dia, lendo um comentário feito por um amigo, aqui mesmo no Facebook, referente a um ato extremo cometido por outro de nossos amigos, me impressionou a frase: "O suicídio é, às vezes, o último grito de quem passou chorando e ninguém percebeu... que sejamos ainda mais sensíveis a dor do outro.”
Por isso mesmo, rezemos pelos Sacerdotes... Como qualquer filho de Deus, eles também necessitam de orações.
Faça uma avaliação de sua amizade com seu pároco...
Enigmas da vida!!!
[Pe. José Neto de França]
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