Lançando um olhar no passado distante, lembro quando conheci a família de “Zé Nogueira”, como era carinhosamente chamado.
Foi na segunda metade da década de sessenta, eu tinha oito anos, quando meus pais mudaram de residência, passando do Bairro da Floresta, em Santana do Ipanema, para a Rua Delmiro Gouveia, no Bairro da Camoxinga. A rua ainda não era calçada, daí ser conhecida também como a Rua da Poeira
A casa de meus pais ficava do lado direito, de quem vinha do comércio. A família do Sr. José Nogueira na parte esquerda, quase em frente à minha.
Muitas vezes vi seus filhos, ainda crianças como eu, brincando na rua, à frente de nossas casas.
Tempos depois, mudamos de residência. Eles para outra rua, no mesmo bairro; minha família para outra casa na mesma rua, do lado esquerdo.
Já adolescente, me aproximei mais de Zé Nogueira, através do Sindicato dos trabalhadores, quando a sede ainda estava sendo construída, e também do fato de eu ter me tornado coroinha da paróquia de São Cristóvão, onde ele, sendo um homem de muita fé, frequentava e exercia vários trabalhos pastorais, inclusive como membro do Movimento Bíblico. Fui muitas vezes brincar com os outros adolescentes no terreno onde está, hoje, a sede do Sindicato.
Depois de um longo afastamento, em função de minha ida a capital paulista, voltei a me encontrar com ele a partir do momento em que me apresentei ao pároco de São Cristóvão, como vocacionado ao Sacerdócio, em janeiro de 1988. Nos encontros no Centro Bíblico de Santana do Ipanema, nas idas às comunidades para missas, visitas, Vias-Sacras; nos Retiros dos Homens no Santuário do Tigre, nos Encontros das famílias nesse mesmo Santuário, nossa amizade foi aumentando...
Durante meu período de Seminário, meus primeiros anos de padre, ele e sua família sempre estiveram presentes.
Recordo-me de quando um de seus filhos faleceu, vitimado de um acidente automobilístico, justamente numa viagem onde iria, com seu pai e “amigos da bíblia” participarem de um Encontro Bíblico em uma comunidade. Enquanto algumas pessoas questionaram o acontecimento “negativo”, justo num momento em que iam para servir a Deus, ele, Zé Nogueira, demonstrou todo seu amor a Cristo e a Igreja, se fortalecendo ainda mais na fé.
Lembro-me de que, nove anos depois de ser ordenado, quando assumi, como pároco, a Paróquia de São Cristóvão, ele veio a mim e me falou que eu tinha toda a liberdade de passar o trabalho dele para outra pessoa que achasse melhor. Eu olhei para ele e lhe disse: “- O que está indo bem, não se muda...”
Senti que ele ficou imensamente emocionado e agradecido.
Eu tinha tanta confiança nele que durante minha gestão naquela paróquia, o tive como “braço direito”. Quando lhe entregava alguma atribuição, importava em saber somente o resultado, depois. E nunca o decepcionei. Igualmente, ele jamais me decepcionou.
Ele foi um homem que entendeu muito bem o significado do verbo “compadecer”, não gramaticalmente, mas existencialmente. Quantas vezes ele chegava na casa paroquial e me falava sobre alguma família ou pessoa que passava por determinadas situações de carência. Nesses momentos, nós sentávamos, avaliávamos o problema, pensava em quem poderia se unir a nós para a resolução; por vezes ia como ele ao local onde se passava a questão, para fazermos um diagnóstico melhor da situação; depois, confiava tudo que foi decidido a ele e dizia: “- Resolva e mande-me a conta.” Ele, com a simplicidade que lhe era característica, fazia o que foi combinado. Nunca nos interessamos em divulgar esses trabalhos... Como sempre dizíamos, importa fazermos o bem! Isso basta!
Tive, incondicionalmente, seu apoio e do Movimento Bíblico em todas as atividades promovidas pela paróquia, de forma especial os trabalhos pastorais na quaresma, mês de maio, mês da Bíblia e Natal em Família. Com um destaque especial o Retiro dos Homens no Tigre e os Encontros das Famílias, paroquial ou setorial.
Na missa de despedida, como pároco de São Cristóvão, em função de minha transferência para Major Izidoro, nos abraçamos e choramos muito!
Amigo, irmão, “pai”... assim passei a ver Zé Nogueira.
Por problemas de saúde, ele teve que deixar de fazer o que mais gostava: trabalhos pastorais. Seu afastamento aconteceu quando eu já estava em Major Izidoro.
Recebi a notícia de seu falecimento com grande pesar. 08 de maio ficará gravado em meu existir como o dia em que mais um “pedaço de mim” se foi.
Não consegui chegar a tempo à Santana do Ipanema, para participar de seu sepultamento. Mesmo assim, fui até o Cemitério Santa Sofia e, diante de seu túmulo, rezei por sua alma e pela alma de seu filho, o que faleceu de acidente. Em seguida, fui até a residência de seu filho, Bartolomeu, outro grande amigo. Lá, tivemos uma longa conversa sobre os últimos acontecimentos, à luz da Ressurreição.
Descanso eterno dai-lhe, Senhor... Que a luz perpétua o ilumine!!!
A vida segue...
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