SEU JOÃO SOARES E O MOTORISTA DA "PROGRESSO"

Fábio Campos

Viajar pelo interior do nosso estado de Alagoas, ou mesmo pra outros estados, hoje em dia, é bastante cômodo se compararmos a tempos idos. As vezes, ouço minha mãe contar, das dificuldades de antigamente de se deslocar de Olho D’água das Flores, sua terra natal até Santana do Ipanema. Viagem cansativa de carro de boi, a pé. Raramente se conseguia, uma carona num caminhão. Estamos falando do tempo de Silvestre Péricles e Arnon de Melo, governando nosso estado. Meio século já se passou desde então. A estrada de rodagem, de Palmeira dos Índios até Santana, é obra construída no tempo que Graciliano Ramos, era prefeito da terra dos xucurus, isso ele narra inclusive em sua obra. Nos dias atuais a quantidade de passageiros circulando, tem aumentado tanto, que as empresas de transporte não conseguem atender a demanda, abrindo-se um precedente para que exista o transporte alternativo. Indignados, detemos mais um maldito índice negativo, o de comercializar combustível pelo preço mais caro do país.

Seu João Soares, meu pai, por muito anos foi comerciante, tivera uma mercearia por trás da Toca do Pato, a mercearia funcionava também como lanchonete. Certa ocasião meu pai precisou ir a Palmeira dos Índios, comprar mercadorias. Na viagem de retorno a Santana, assim que O “busão” da Auto-viação Progresso, deixou Palmeira de Fora pra trás, Seu João, sentiu uma forte dor de barriga. Alguma coisa que havia ingerido não lhe fizera bem. Imediatamente dirigiu-se até o motorista e pediu para que ele parasse, pois na situação que se encontrava, não aguentaria mais cem metros, sem “arriar o barro”. Ouviu do motorista a seguinte resposta:

-Ah! Dá não pra parar! Acabamos de sair de Palmeira! O senhor veja se aguenta até o Mata-Burro!

O passageiro “apertado” decidiu que ficaria ali mesmo. Num lugar ermo, no meio da estrada. O motorista parou pra ele descer, e foi embora. Deixando pra trás um homem aturdido procurando uma moita na capoeira.

Passou-se alguns dias. E eis quem aparece na mercearia de Seu João? Justamente ele, o insolente e desumano motorista. Sentou-se num baquinho junto ao balcão, juntamente com o cobrador. E sem reconhecer, pois nem se lembrava mais, do que tinha feito com aquele comerciante, pediu a senhora que atendia no balcão, no caso minha mãe:

-Ô Dona! Me veja aí um almoço, faça aí um prato no capricho! Que eu estou com uma fome daquelas!

É preciso que se diga, que havia, como ainda hoje há, uma espécie de acordo, não declarado, mas mesmo assim assumido, entre os motoristas e os donos de lanchonete. Aonde param, enchem o estabelecimento de freguês, e a refeição deles, acaba ficando de graça. Meu pai aproximou-se do dito cujo, encarando-o, disse:

-Quer dizer, pra cagar, se eu quisesse, só no Mata-Burro! E você, se quiser, vá comer na baixa da égua! Aqui não!



Fabio Campos 05/05/2011 É Professor em S. do Ipanema -AL

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