ZÉ DE MUITOS NOMES

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras.

Quem conheceu José de Albuquerque Malta (1913-1991), filho de tradicional família de Mata Grande, Alagoas, sabe muito bem que se tratava de pessoa alegre, querida, divertida, possuidora de apreciável repertório de histórias pitorescas. Aposentado, sabia administrar, como poucos, a ociosidade, após deixar para traz os serviços da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Vida boa, compulsivo seresteiro, de cantar valsas e modinhas ao som de violão dedilhado por competente músico farrista, ele apreciava varar silenciosas madrugadas em Santana do Ipanema, cidade que escolhera para nela residir definitivamente.
Iniciei e conclui minha carreira de bancário do Banco do Brasil em Santana do Ipanema, minha cidade natal. Nesse longo período de trabalho e de muita luta, recolhi de Zé Malta várias histórias engraçadas, muitas das quais já contadas em alguns dos livros de crônicas que publiquei.
Por algum tempo, Zé Malta foi arrendatário do bar-restaurante da AABB local. Como eu residia bem próximo do clube, à noitinha lá comparecia e me permitia ouvir suas histórias, piadas, anedotas e máximas, enquanto me divertia, com outra dupla de amigos, no jogo carteado (buraco) e, às vezes, mexendo pedras de dominó. Nesse passatempo sem apostas, também se jogava conversa fora.
Verdade que o saudoso amigo possuía o conhecido defeito de não saber perder no divertido jogo, sempre alegando: “Não vejo nenhuma graça de vocês, porque não sou imbecil.” Conhecedor desse seu peculiar defeito, preventivamente com ele eu não formava dupla, receoso de ver arranhada, momentaneamente, nossa velha e sincera amizade. O jogo, de muitas lorotas, no entanto era levado a sério por Zé Malta.
Rebuscando, há pouco, meus desarrumados arquivos, com o expurgo de recortes de jornais e de velhos e amarelados papéis, encontrei a história deste título, datada de 17/7/1978, contada por Zé Malta, que veremos a seguir.
O personagem por ele criado teria sido viciado em jogo de azar, de ver o raiar do dia, e ainda a trocar cartas de baralho com parceiros de infortúnio. Por essa má fama, não era gente de comprar fiado. Não que não tivesse vontade de fazê-lo, mas porque, pela profissão escolhida, a praça certamente negar-lhe-ia crédito.
Fazia “ginástica” de toda sorte para conseguir o sustento dos meninos. Em dia de feira, e com o dinheiro curto, o jogador pechinchava aqui e acolá. Para comprar ovos, por exemplo, usava da falsa dieta a ele recomendada por especialista, de só poder comer ovo de galinha-pedrês. Ingenuamente, os vendedores permitiam que o próprio comprador fizesse a escolha da mercadoria. Curiosamente, perguntavam-lhe:
- O senhor conhece ovo de galinha-pedrês?
- Claro que sim. São os maiores – respondia matreiramente.
Ao contar esta história, Zé Malta, conhecido crítico do cotidiano da gente simples do lugar e dos costumes interioranos, aproveitava o ensejo para assegurar que após o casamento o homem mudava de nome. Seria uma questão de tempo para que isso ocorresse. Ante, afinal, as necessidades que diariamente fossem surgindo no doce lar do casal, sua mulher passaria a chamá-lo de “Zé, leite”, “Zé, pão”, “Zé, feijão”, “Zé, arroz”, “Zé, açúcar”, “Zé, aluguel”, “Zé, sabão”. Assim por diante.

Maceió, julho de 2016.

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