Há alguns dias, recebi do conterrâneo João Francisco das Chagas Neto o longo poema intitulado Videiras, valioso presente que me despertou maior interesse por se tratar de vinho, sua cultura e sua história. O querido confrade João do Mato ocupa a Cadeira nº 26 da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
De fato, sou de muitos anos apreciador de vinho – certamente o tinto seco de mesa –, depois que meu médico me sugeriu que evitasse a deliciosa cerveja, bebida que me vinha causando, de vez em quando, crises alérgicas, além da crescente dilatação da minha pança.
O poema de exaltação ao vinho chegou-me sem nome conhecido do poeta-historiador, composto de 12 estrofes, cada uma com 10 versos. Poema que conta a história do vinho, sua origem, vinícolas e videiras do mundo onde se cultivam uvas e onde se produz a chamada bebida dos deuses ou o néctar dos deuses.
De início, escreveu o poeta: “Aprendi o nome das uvas/ Cada lenda, cada história/ Guardei na memória/ Pra conversar bonito/ Pra passar por erudito/ Por um bom entendedor/ Eu sou bom bebedor/ Gosto de uma boa bebida/ Com uma boa comida/ Harmonizando o sabor.
Especialista em vinho, Tatiana Fraga pontificou: “O vinho historicamente faz parte de todos os ritos e festas, das sacras às profanas.”
Resultante da fermentação do sumo da uva, sua fabricação e consumo vêm de tempos imemoriais, desde a Antiguidade, talvez antes mesmo dos anos 3.200 a.C. Com a fermentação do sumo de frutas ou de plantas com propriedades medicinais e gustativas, o vinho faz bem à saúde. Há vinho de maçã, de caju, jenipapo, jurubeba, açaí, bacaba, etc. Diz-se até, se lenda ou não, que o contumaz bebedor de vinho não morre de doença do coração. Claro que o vinho deve ser tomado por prazer e como brinde nas libações e nos bons momentos da vida.
Vejamos o que disseram as seguintes personalidades históricas a respeito do vinho, através dos tempos:
Eurípedes (480-406 a.C.), dramaturgo e poeta grego: “O vinho foi dado ao homem para acalmar suas fadigas.”
Sócrates (470-399 a.C.), filósofo: “O vinho melhora e tempera os espíritos e acalma as preocupações da mente.”
Platão (427-344 a.C.), filósofo: “O vinho é o mais belo presente que Deus fez aos homens.”
Pasteur (1822-1895), cientista: “Existe mais filosofia numa garrafa de vinho que em todos os livros.”
Alexandre Dumas (1802-1870), romancista e dramaturgo: “O vinho é a parte intelectual da comida.”
Robert Louis Stevenson (1850-1894), poeta e escritor escocês: “Um bom vinho é poesia engarrafada.”
Napoleão Bonaparte (1769-1821), ditador e comandante do exército francês: “Nas vitórias o vinho é merecido, nas derrotas é necessário.”
No episódio (perícope) bíblico narrado no Evangelho de João (2-1-11), verificou-se, como o primeiro dos milagres de Jesus, a transformação da água em vinho na festa das Bodas de Caná da Galileia.
Somente o Brasil produz vinho suave. O vinho tinto seco não contém açúcar. Aveludado é vinho de pouca acidez, porém rico em glicerina. O vinho de mesa é vinho comum, vinho de pasto, que se costuma beber nas refeições, antes ou depois. Vinho de pouca qualidade é chamado de carrascão. Aroma agradável de bom vinho chama-se buquê. Na costumeira linguagem de tomador de vinho, o encorpado é o vinho de mesa de bom corpo, densidade e consistência. O vinho fino, como o próprio nome indica, refere-se a vinho de qualidade superior.
O poeta das Videiras (das 12 estrofes) não esqueceu as diversas marcas de vinho e suas famosas uvas, a partir da história de cada uma delas, a saber: Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Tannat, Petit Verdot, Chianti, Rosso, Brunello, Syrah, Shiraz, Malbec, Nebbiolo, Tempranillo e, finalmente, a uva Carménère, originária de Bordeaux, na França. O poeta, assim, viajou pela França, Espanha, Portugal, Itália, Uruguai, Argentina, Chile e mais outros países, para obter tanta informação sobre vinícolas, videiras, uvas, vinhos, sabores e gastronomia.
Quando estive no Chile, visitei a vinícola onde se cultiva a Carménère, uva de casta nobre, originária de Bordeaux. Da França a uva foi levada para o Chile, porque na sua origem suas videiras foram destruídas por terrível praga em 1880. No Chile, em terras vulcânicas, a especial videira adaptou-se ao clima dos Andes e produz a uva do delicioso vinho de minha preferência.
Por isso que considerei valioso o presente do poema recebido do confrade João Francisco das Chagas Neto, conterrâneo querido, outrora menino danado, traquinas da Rua Nova e Rua do Sebo e vizinhança em Santana do Ipanema, nosso chão nativo.
Maceió, setembro de 2021.
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