MAJOR ELZA CANSANÇÃO

Djalma Carvalho

Não me lembro bem da data que a Academia Maceioense de Letras, em reunião festiva, homenageou a major Elza Cansanção, agraciando-a com uma honrosa comenda. Recordo-me daquela mulher de boa altura, postura altiva, pele corada, que elegantemente trajava farda militar, verde oliva, em que expunha insígnias e medalhas de inúmeras condecorações.
Até então eu sabia que se tratava de ilustre personalidade alagoana, heroína da Segunda Guerra Mundial, tendo sido a primeira mulher a integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), como enfermeira voluntária.
Na verdade, ela nascera no Rio de Janeiro em 21 de outubro de 1921, filha de pais alagoanos, origem da qual se orgulhava, uma vez descendente de Ana Lins, senhora de engenho, revolucionária, que aderira à causa liberal, apoiando a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador de 1824. Ana Maria José Lins era mãe do Visconde de Sinimbu.
Recordemos, então, que a Segunda Guerra Mundial teve início em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelas forças militares de Adolf Hitler. O Conflito estendeu-se até 2 de setembro de 1945, derrotadas que foram as chamadas nações do eixo, Alemanha, Itália e Japão. A rendição veio após lançadas em 6 e 9 de agosto de 1945 duas bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
Segundo historiadores, nessa “maior e mais sangrenta guerra da história da humanidade”, que mobilizou mais de 100 milhões de militares, morreram cerca de 70 milhões de pessoas, sendo de civis sua maioria.
Vencendo preconceitos e a oposição do seu pai, mas dotada de ardor patriótico, Elza Cansanção, uma vez concluído seu curso de enfermagem em abril de 1943, foi a primeira decana das mulheres a ingressar nas Forças Armadas Brasileiras. A enfermeira, então tenente, desembarcou no teatro de operações na Itália em agosto de 1944.
Em Atrevidos Caetés (Viva Editora, pp.108/114, Maceió, 2019), livro de autoria de Fábio Lins, verá o leitor que “a Segunda Guerra Mundial começaria no Brasil por Alagoas, já que no dia 26 de setembro de 1943, na costa alagoana, o navio Itapagé foi bombardeado pelo submarino alemão U-16”. Esse episódio ocorreu à altura do povoado Lagoa Azeda, no litoral sul de Alagoas.
Nessa data, a enfermeira Elza Cansanção estava em Alagoas e ajudou a socorrer os tripulantes feridos. Resultado da tragédia: 22 mortos.
Em 2 de maio de 1945, quando a guerra já estava praticamente terminada, Elza perderia seu noivo, oficial americano, vítima da explosão de uma granada. Sobre o triste episódio, disse ela: “A guerra tem essas nuances. Você vê uma obra de arte, um objeto lindo, vai pegar e – bum! – ele explode. Aí descobre que era um chamariz de mina.”,
Major Elza, como ela gostava de assim ser chamada, era jornalista, escritora, poliglota. Fez teatro, estudou Psicologia, Turismo e Relações Humanas, Artes Plásticas, História das Américas e aprendeu a pilotar ultraleve. A história de sua vida foi contada, no cinema, no longa-metragem A Cobra Fumou, de Vinicius Reis. Segundo a Wikipédia, enciclopédia livre, ela foi “a mulher mais condecorada do Brasil, com mais de 200 medalhas”.
Major Elza Cansanção faleceu no Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 2009, aos 88 anos de idade. Cremado seu corpo, parte das cinzas ficou onde ela falecera, e a outra parte, conforme desejo em vida, depositada está ao pé do seu busto em Maceió, no Museu da Segunda Guerra Mundial, por ela criado em 1996.

Maceió, agosto de 2019.

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