Residindo em Maceió, costumo viajar a Santana do Ipanema para festivos acontecimentos sociais, literários, familiares e, naturalmente, para matar saudades. Outras vezes, ao viver relembranças de bons momentos da minha vida ou embalar-me em reminiscências, vejo-me levado a inevitáveis emoções.
Em agosto passado, na noite do dia 12, estive em minha cidade para viver tudo isso de forma mais ampliada de encantos. Em solenidade bem organizada e repleta de expectativas, de bom público, assisti ao lançamento do livro Lembranças Guardadas (Editora SWA Instituto, 2022), de autoria do poeta e prosador Remi Bastos, até então por mim sabido tratar-se de alegre e divertido santanense.
A solenidade desenvolveu-se em dois momentos marcantes. O primeiro, com atraso de horas, o da entrega do título de cidadão honorário de Santana do Ipanema ao querido poeta Remi Bastos. O segundo, o do lançamento, propriamente dito, do livro citado. Em ambos os momentos, a solenidade contou com a presença da prefeita municipal, vereadores, secretários, intelectuais e orgulhosos conterrâneos do autor.
A prosa poética musicada de Remi Bastos sempre encantou e sensibilizou a alma do santanense, nas festas de rua, no carnaval, nos encontros festivos, nos Reencontros anuais, nos botecos. Afinal, em todos os alegres recantos da cidade.
Há dois hinos de sua autoria. Um, destinado a solenidades oficiais do município de Santana do Ipanema; outro, chamado “Santana dos Meus Amores”, cantado entusiasticamente em todos os encontros de santanenses, totalmente marcados de ufanismo nativo.
Leio no livro Notas de Teoria Literária (Civilização Brasileira, 1976, RJ), de autoria de Afrânio Coutinho (1911-2000), a seguinte frase emblemática: “Para a poética atual, a literatura é uma arte, a arte da palavra, e, como tal, somente lhe pertence o que for produto da imaginação criadora.” O saudoso professor, crítico e ensaísta baiano, indo mais além, acrescentou: “A imaginação criadora é uma interpretação verbal da vida por um artista.”
O livro de Remi Bastos reúne tudo isso com a beleza dos seus versos e da sua prosa, fonte de prazer e sensibilidade para o leitor amante da crônica poetizada.
Nada escapou ao olhar observador e inspirador de Remi Bastos, como poeta e como cronista: a paisagem intimista de Santana do Ipanema, o céu estrelado, enluarado, a gente simples, as recordações dos amigos de infância, muitos dos quais já vivendo em outra dimensão, e as farras homéricas ao som do seu inseparável violão. Enfim, como ele disse: “Rio Ipanema das manhãs alegres e febris do meu torrão querido; Santana dos Meus amores!”
Feliz a escolha do título do livro Lembranças Guardadas, recheado, como esperado, de boas e felizes recordações de um passado não muito distante, mas que não volta mais. Ao percorrer as 215 páginas, o atento leitor vai se encantando, deliciando-se, com as histórias contadas, com tantas reminiscências, com a beleza da inspiração poética do autor.
Com exceção das poesias musicadas – “Santana dos Meus Amores” (1968), “Saudade” (1970), “Velho Cruzeiro” (1993), “Santana eu Amo Você” (1997) e “Camoxinga” (1998) – toda a sua veia poética manifestou-se com maior intensidade a partir de 2006, com o poema “Menino Engraçado Chamado Remi”, do qual vejamos a primeira estrofe:
“Menino que corre, que chora e que ri,
Menino levado, traquino e danado,
Menino assanhado chamado Remi.”
Observo que apenas uma das suas composições poéticas (página 183) fugiu ao seu estilo e gênero literários bastante conhecidos e voltados para sua terra natal, para personalidades santanenses, festas e folguedos, paisagem sertaneja e costumes de sua gente alegre e ordeira. Refiro-me ao poema “Pátria Minha, Pátria Nossa”, de conotação, a meu ver, político-ideológica, praticada com ênfase na atual quadra da vida brasileira.
Remi Bastos é competente engenheiro agrônomo, graduado em 1968 pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Uma vez aprovado no vestibular e usando boina na cabeça rapada pelo trote tradicional, eis o novel universitário descendo do ônibus, orgulhosamente chegando a Santana do Ipanema. No trajeto para a casa dos seus pais para a alvissareira notícia, encontra-se com o popular Dorival de Nézio, pai de “Catarrinho”, que logo julga ter Remi assentado praça. E diz-lhe: “Até que enfim deu pra gente. Está destacando onde?”
Receba meu abraço de parabéns, querido Remi Bastos, pela publicação do seu primeiro livro. Enfim, vejo concretizados os reiterados apelos que lhe foram dados por este cronista para realização do seu grande sonho. Continue escrevendo e produzindo belos poemas e bem alinhadas crônicas, para orgulho dos seus conterrâneos leitores.
Maceió, setembro de 2022.
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