Agora, vejo no jornal Notícias do Dia (WatsApp), nº 2437, de 9/7/2023, a seguinte notícia que me fez lembrar o Bar do Tonho ou Café Atraente, modesto e muito frequentado estabelecimento, que existia no centro comercial de Santana do Ipanema a partir do início da década de 1950 até o final da década de 1980, por aí.
“Carro voador recebe autorização para testes de voo nos Estados Unidos. Previsão é de que o veículo seja disponibilizado ao público geral no final de 2025 ao valor de US$300 mil, aproximadamente 1.500 mil reais.”
Na verdade, essa notícia repete, em parte, a divulgada em 1°/9/2020, no mesmo jornal, nos seguintes termos: “Carro voador faz voo de quatro minutos em teste no Japão.” Tratei desse fato curioso em meu livro Festas de Santana (2ª edição, 2021).
Se vivo fosse, o santanense Lulu Felix estaria hoje, às gargalhadas, gozando do assíduo e incrédulo grupo de frequentadores do referido bar que o chamava de mentiroso.
Modesto bar, com duas portas, piso sujo, mesas encardidas e balcão de madeira. Em uma das prateleiras com poucas garrafas havia um rádio da marca Philips, tipo de cabeceira, com o qual o dono do bar e os selecionados clientes acompanhavam o noticiário do país e do mundo, principalmente o referente a futebol.
Tonho de Marcelon, assim chamado o dono do bar, era sujeito bem-humorado, boa-praça, gozador, fala mansa, risadas irônicas, irreverente. Todavia, quando o Flamengo era derrotado, ele adoecia e perdia o costumeiro bom humor.
Charada, dama, xadrez, palavras cruzadas, tudo isso era assunto de sua preferência. Pessoa bem informada, procedente de Viçosa das Alagoas, terra de cultura e de intelectuais, qualidades das quais ele se orgulhava.
O bar era local de encontro de intelectuais da cidade, para um gole de cerveja ou de café. Tratava-se de tudo ali: política, literatura, futebol, jogos de mesa e, obviamente, vida alheia. Lá, aprendi a jogar xadrez, “jogo, ciência e arte”, como assim o dizem os enxadristas.
Sobre a notícia tratada no início desta conversa, de carro voador, o Lulu Felix, conhecido como mentiroso da cidade, costumava viajar a São Paulo e de lá trazia novidades, traduzidas como fantasiosas e consideradas mentirosas pelos irrequietos e maldosos frequentadores do Bar do Tonho.
Essas maldades dos seus conterrâneos eram contestadas por Lulu Felix: “Vocês não viajam. Não leem.”
A notícia de carro voador, vitória da tecnologia do nosso tempo, para nós, santanenses, entretanto ela não seria tão fantástica assim. No mesmo Bar do Tonho, em meados da primeira década de 1950, outro mentiroso da cidade, de sobrenome respeitável, assegurava, ante a incrédula plateia, que seu automóvel comprado no Rio de Janeiro fora lá mesmo abastecido, por engano, com puríssima gasolina para aviões. Por isso que, vez por outra, na viagem para Santana do Ipanema, seu automóvel, muitíssimo acelerado, dava umas “voadas” de meia légua sem tocar no chão das grandes retas da BR 101...
O jornalista pernambucano Aldo Paes Barreto disse: “Cidade de interior tem de ter seu bêbado de plantão, seu político de enganação e seu doido de estimação.”
De minha parte, afinal, acrescentaria: também tem o conversador, o contador de história, o poeta, o seresteiro, o mau pagador e, claro, o conhecido mentiroso.
Maceió, julho de 2023.
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