Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras
Acabo de conhecer, por leitura, o gato Serafín (assim grafado), bichano que se tornou especial e inseparável companheiro e amigo de Juan Peineta, recitador e declamador, um dos personagens do livro Cinco Esquinas, de autoria de Mário Vargas Llosa, renomado escritor peruano e Prêmio Nobel de Literatura. Juan Peineta recolhera Serafín com as patas quebradas por moleques de rua. Tratou-o e o acomodou em seu apartamento, dando-lhe comida e carinho. Certa feita, o gato acompanhara Juan Peineta até a igreja onde o amigo assistiria à santa missa dominical, mas, barrado à entrada, ficara o bichano num galho de uma árvore próxima, aguardando, pacientemente, a saída do inseparável companheiro.
Lembrei-me, a propósito, do obediente ganso de Válter de Marinheiro, que o acompanhava rua acima, rua abaixo, lá pelos idos anos de 1960, por aí, em Santana do Ipanema. O referido ganso acomodava-se, pacientemente, à porta de bares e botecos, enquanto seu alegre proprietário ali celebrava sua boa vida com amigos e conterrâneos.
Por curiosidade, recolhi do portal www.maltanet.com.br cópia do trabalho literário escrito pela alagoana de Olivença, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, intitulado Nise da Silveira e as Imagens Conscientes. Sobre essa ilustre médica alagoana que revolucionou a psiquiatria brasileira, disse Luitgarde: “Dra. Nise Magalhães da Silveira (1905-1999) tem sido abordada (...) desde a infância, pela sua capacidade de decifrar a linguagem dos animais, utilizando, como ninguém, esse dom que relatava desenvolver desde os cinco anos de idade, quando viu sua grande amiga, a galinha Pedrês, ameaçada de morte.” Dra. Nise, como psiquiatra, deixava que os portadores de problemas emocionais se juntassem aos animais soltos nos amplos jardins do hospital no Rio de Janeiro, para que, gatos e cachorros, roçando-lhes as pernas pudessem ser percebidos e aceitos pelos humanos em tratamento, “abrindo comunicação entre seres vivos, aí incluída a natureza”. Assim, retirou as grades que protegiam “os normais da convivência com os diferentes”. Em sua residência, quando algum amigo tocava a campainha, seus animais iam receber a visita. Se por acaso se tratasse de pessoa má, estranha, que não deveria ser recebida, os animais se arrepiavam ou arreganhavam os dentes.
O jornalista, escritor e poeta gaúcho Carlos Nejar, penalizado com um cão de rua abandonado e faminto, disse: “O cão é puro na sua integridade, na sua penúria e fome.”
Concluindo, soube há poucos dias que um dos cachorros de rua, daqui de Maceió, que uma amiga tratava com todo carinho e zelo, desapareceu misteriosamente. Partindo do comprovado método da psiquiatra, observa-se que os demais cachorros tratados pela bondosa amiga Leila ficam furiosos e raivosos toda vez que um sujeito incomodado com os bichinhos transita pela rua ou circula por seus espaços.
Maceió, janeiro de 2017.
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