O BANCO DE IRENE

Carlito Lima

Expedito caminhava com o amigo Nery no calçadão da praia da Jatiúca, nove da manhã, de repente ela apareceu ultrapassando num rebolado de mulher no cio, o short curto mostrava as pernas douradas pelo sol, salpicadas de penugens louras. Os dois ficaram fascinados com o balançado daquela mulher, sozinha, andando e bebericando latinha de cerveja. Sem intenções mais profundas Expedito sorriu e falou ao vento: “Que belo café da manhã!” A moça olhou para trás sorrindo: “Só falta tira-gosto de carne do sol e uma boa conversa.” Ele não aguentou a provocação, apressou os passos, encostou-se à bela, enquanto seu amigo se despedia atravessando a rua. Andaram mais um pouco, sentaram num banco, conversaram, ela capixaba, Espírito Santo, de passeio pela cidade. Marcaram encontro, dali à uma hora no mesmo banco onde a deixou contemplando o dia e o mar azul.

Em casa, Expedito tomou banho, trocou de roupa, perfumou-se, avisou à esposa, estava viajando para Arapiracara só retornava pela noitinha. Entrou no carro, acostou exatamente às 10 horas no calçadão, buzinou, a bela permanecia sentada no banco admirando o mar, lata de cerveja na mão, virou-se, sorriu, levantou-se em direção ao carro. Rumaram pelo litoral norte. Expedito perguntou para onde desejava ir, o que desejava fazer, ele tinha todo o tempo do mundo. Sem pensar muito, ela respondeu.

-“Quero contemplar esse azul-esverdeado do mar, quero tomar cerveja, quero tira-gosto de carne do sol, conversar bastante, curtir esse dia tão bonito. Me leve para onde quiser, seja meu timoneiro, meu capitão, me conduza.”

Expedito estava empolgado, nunca havia acontecido uma aventura com uma mulher tão determinada, uma jovem que poderia ser sua filha. Conversaram amenidades, Ele contou sua vida, gosta do comércio, comprar para vender mais caro, vibra ter lucro, com 56 anos, tem ainda muitos sonhos, ganhar dinheiro é um jogo, ele sabia jogar.

Irene olhou para o companheiro, alisou o rosto, os lábios. – “‘Você é um homem bonito, gosto dos cabelos brancos, o dobro de minha idade, é assim que gosto.” Caiu às gargalhadas. Ao chegar à barraca na praia em Guaxuma, Expedito pediu uísque, ela cerveja, comeram carne de sol desfiada. “E você? De onde vem? Prá onde vai?”. Perguntou-lhe encostando-se mais.

- “Sou filhinha de papai, mimada, família rica. Já ouviu falar em Cachoeiro do Itapemirim? a terra de Roberto Carlos? Minha família é de lá. Briguei com meus pais, besteira, só porque gosto de tomar uns porres e não quero casar tão cedo, a família me perturba. Como não conhecia o Nordeste, tirei umas férias.” Outra gostosa gargalhada. “Perambulei por essas lindas cidades litorâneas, um mês, sem lenço e sem documento, como vocês diziam no século passado. Está na hora de voltar, terminei as férias. Foi bom, provei, posso viver sozinha, não sou criança, sei o que quero e aonde vou. Nada lhe pergunto, nem quero saber se é casado. Gostei de você assim que o vi, tinha certeza que falaria comigo. Minha intuição feminina é forte. Vamos sair daqui, pague a conta, quero você, quero um dia maravilhoso de amor, antes passemos na farmácia.” Outra gargalhada.

Expedito estava encantado com aquela jovem, a franqueza, a maneira independente de ser. Foi uma tarde de amor arrebatadora, animalesca. Ao anoitecer Irene pediu, ele deixou-a no mesmo banco, no mesmo lugar, queria olhar o mar iluminado pela luz noturna. Ele perguntou se no dia seguinte se encontrariam. Encostada ao carro, ela beijou dois dedos, colocou-os com carinho em sua boca. Pediu que ele fosse para casa ver a esposa.

Expedito tomou um banho, jantou com a mulher, pensando naquele dia inimaginável, na jovem que naquele mesmo dia desapareceria, nunca mais veria. Ele continua fazendo caminhadas no calçadão, ao passar pelo banco de Irene, vem a lembrança gostosa daquele dia de amor juvenil, marcante, inesquecível.

Comentários