ULTIMO ADEUS A JOSÉ ORÊNCIO, o poeta do Tamanduá.

Antonio Machado

Antônio Machado.

A cidade sertaneja de Olho d’Água das Flores, emancipada politicamente, aos 02 de dezembro de 1.953, quando elegeu seu segundo grupo de vereadores, encontrou no cidadão José Orêncio de Abreu, mais conhecido como o poeta do Tamanduá, um grande defensor político, que dada sua habilidade de fazer amigos, foi fácil, José Orêncio eleger-se em três mandatos para vereador do município, e essa legião de amigos e eleitores o tinha como seu poeta maior, em sendo da geonealogia dos “Abreus”, José Orêncio de Abreu soube escrever com dignidade seu nome na história desta terra, foi amigo e fez amigos ao longo de sua longeva existência, tendo nascido aos 20 de abril de 1.920, no Sítio Tamanduá, que lhe legou o apelido artístico, filho do casal, Orêncio de Abreu e Generosa Abreu.
José Orêncio herdou da sua mãe, a veia poética, em vista de sua facilidade de fazer poesia, mesmo autodidata, sabia manejar as palavras em forma de rimas, que encantava a todos e de maneira engraçada e jocosa, como estas estrofes que recolhemos de sua fecunda lavra; sobre o velho: a pessoa nasce e se cria/ trabalha, brinca e faz saída,/ namora cheio de vida/ novo e cheio de alegria,/ dança e brinca todo dia/ quando fica velho é diferente,/ cria rugas e falta dentes/ e deixa de andar nas danças/ são estas as lembranças/ que a velhice manda pra gente. E mais este: “ o velho encurta a passada/ se acaba a formosura/ fica com as juntas duras,/ já chegando aos setenta/ dores no corpo sempre sente/ seus passos não vão pra frente/ cabelos caem em abundância/ são estas as lembranças/ que a velhice manda pra gente”. O poeta glosou a beleza da estrela Dalva assim: “falo em planeta conhecido/ quando não tem nevoeiro/ no céu se ver um cruzeiro/ às vezes meio pendido/ os três reis magos escondidos/ as três Marias, são benditas/ a barca de Noé a gente fita no céu/ não sei pra onde/ em maio ela se esconde/ a estrela Dalva é bonita”. José Orêncio do Tamanduá deixou um legado poético grande, porém seu trabalho, concentra-se muito no campo jocoso, crítico e até censurando, usava os apelidos das pessoas em rimas bem engraçadas, era comum, ver o poeta rodeado de gente, para ouvi-lo em suas poesias fortes que arrancavam gostosas gargalhadas dos presentes, a cidade o admirava, por seu jeito engraçado de fazer poesias, tornando-se mais conhecido como poeta, que como político. De seu casamento com Dona Do Santos, destacam-se as filhas Marluce, médica, psicóloga, advogada e cronista de O Jornal, casada com Alenoir, contabista, Salete, professora casada com o professor e médico Célio além de outros filhos.
O poeta José Orêncio era muito amigo de Josias Abreu, que negociava com carvão. Quando Josias faleceu, este cronista foi visitar em companhia do poeta. De volta, escrevi esta estrofe: “ Josias andava adoentado/ não ligava mais prá mulher/ não vestia a calça em pé/ e só vivia acocorado/ com os mocotós inchados/ e viteligo nas mãos/ não abotoava o centurão/ na vida muito sofreu/ depois que Josias morreu/ prá quem ficou o carvão? Deixei meu verso no gabinete do poeta, dias depois, voltei para apanhar o resultado, e vejam, leitores, o que ele respondeu: “ Josias tinha uma amizade/ com uma mulher da vida/ que era bem parecida/ e até nova na idade/ então aqui na cidade/ Josias viveu na luta/ adoeceu fez consulta/ não teve jeito morreu/ e o carvão ficou pra puta”. Ele era assim mesmo, engraçado, destambocado em seus versos, porém muito respeitador, educado, brincalhão e alegre, tipo bonachão, possuía conhecimentos rudimentares de música, gostava de uma concertina (sanfona) e um violão, tocava Asa Branca e solfejava razoável. José Orêncio era comerciante por essência, comprava todo tipo de cereais, com seu comércio instalado na Pça. Da Independência, onde seu armazém, recebia os amigos para dois dedos de prosa, com certeza, a literatura cordelista, ficou menor com o falecimento do poeta José Orêncio do Tamanduá. Seu corpo cansou, e finalmente, no dia 23 de maio, em Maceió, faleceu o poeta, sendo sepultado nesta cidade que tanto ele amava, depois da Câmera de vereadores, lhe prestar uma homenagem significativa e justa onde seu corpo ficou em câmara ardente, até o cortejo sair para o cemitério local, o com grande acompanhamento dos familiares e amigos.
Em sendo amigo do poeta, Colly Flores, o poeta sem métrica e sem graça, mandou-me esta estrofe: “Zé Orêncio não estudou/ mas sabia versejar/ muitos versos ele deixou,/ foi poeta popular/ gostava de conversar/ foi comerciante e vereador,/ seu nome na história ficou/ ele mesmo escreveu/ depois que ele morreu,/ quem ficou no seu lugar?”.

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