Antonio Machado
Venho acompanhado gradativamente, o folclore nos municípios, mormente na região sertaneja e aos poucos venho percebendo sua decadência a cada ano que passa o que é destarte lamentável, que uma manifestação tão rica e tão bonita venha a morrer. Sabe-se que o folclore nasceu da alma do povo simples, dos negros africanos, que acometidos do “banzo” saudade da terra cantavam nas senzalas frias e escuras, muitas vezes em sussurros com medo do capitão do mato que era na maioria das vezes mais feroz que os temíveis patrões, muitas dessas preciosidades musicais foram resgatadas, e eu recolhi esta estrofe tão bela. “vivendo sempre calado/ sem poder nem conversar/vou recordando o passado/da minha terra natá”. Isto é a alma viva o folclore que neste mês de agosto, precisamente no dia 22 pp. completou cerca de 165 anos de sua codificação pelo estudioso americano William John Thoms (1803-1885), que genialmente, juntou os dois vocabulários fol-clore) ( e deu folclore isto sem os solicismos do inglês.
O folclore nasceu com o homem, com seu espírito festeiro e comunicativo isto é inegável. Aí as manifestações populares foram sem espalhando mundo afora de uma maneira tão rica em conteúdo e beleza que chegou as universidades ganhando cadeira em destaque. As manifestações que foram surgindo dentro do folclore ultrapassaram a inteligência humana atingindo todas nuances das atividades humanas, “Deus vos salve casa santa/onde Deus faz morada/onde mora o cálice bento/e a história consagrada,” que beleza de poesia e riqueza de conteúdos, cujas estrofes de tão bonitas, tornaram-se imortais, criadas pela inteligência de nossa gente, e gente inteligente. Ao longo dos anos o folclore encheu os terreiros das fazendas, dos sítios e chegou as cidades e sempre foi aplaudido pelo povo com destaque. Mas hoje os tempos são outros, sorrateiramente essas manifestações populares tão bonitas estão cedendo lugar as famigeradas bandas sem voz, que infestam o Nordeste, engolindo de vez nosso reisado, o pastoril a chegança, o são João, a rainha das festas folclóricas, as novenas, as vaquejadas que ainda teimam em resistir atraindo grande número de pessoas, mas se rendem as bandas de forró. No sertão a festa folclórica está se acabando, está morrendo, e quanto dinheiro existe para cultura, mas parece que não se emprega essa verba. Na minha cidade existe reisado que está capengando, um grupo de pagode autêntico no Pedrão, cantadores de toada, capoeira, grupo de dança de rua, seresteiros do melhor quilate, sanfoneiros de boa qualidade, além de outras manifestações culturais, porém nem se fala. Mas agosto e foi embora não houve sequer uma manifestação pública desses artistas do povo mostrando assim a sua arte, que muitas vezes foge a condição intelectual dos eruditos.
Grandes nomes do folclore emolduram hoje essa escala a exemplo de Câmara Cascudo, que escreveu mais de cem trabalhos literários ligados a essa arte que é o folclore, em 1935, Artur Ramos, alagoano escreveu O folclore do negro no Brasil, cuja obra é citada por Câmara Cascudo em seu Dicionário de folclore, e tantos outros. Outros ficaram no anonimato com Zequinha Quelé do Travessão, Mata Sete do Gameleiro, Benedito do Pedrão, nomes que deixaram marcas na história do folclore, e hoje são páginas viradas e esquecidas, quando muita alegria transmitiam ao povo. Não existe um resgate dessa cultura do passado que foram importantes em seus lugares, cujos nomes precisam ser lembrados para que os próceres venham a conhecer sua história.
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