O CALOR DO SERTÃO

Antonio Machado

O título deste artigo não é meu, mas o nome do décimo segundo livro do distinguido cronista santanense, Dr. Djalma de Melo Carvalho, já calejado nesta área como cronista sertanejo, situa-se dentre os melhores. Recebi semana passada, com uma acalentada dedicatória o mais novo livro desse festejado escritor santanense intitulado O calor do sertão, com o nome bem sugestivo, face o momento que o sertão vivencia com esta onda de calor indevassável chegando acima dos 40°C, provocando certo desconforto a população sertaneja, embora esse calor bravo tende a diminuir face as trovoadas que já começaram a cair como indícios de bom inverno são ideias remotas que via de regra povoam as mentes dos sertanejos.
Os livros do escritor Djalma são sempre bem-vindos, seguindo sempre a mesma temática, focando os causos e casos que enfeitam o anedotário folclórico da vetusta Santana do Ipanema e seus arrabaldes centrados na vivência e convivência sua e de seus conterrâneos, porque sentenciava Ariando Suassuna (1927 – 2014), que seu saber vem mais do povo do que dos livros. Djalma não nasceu cronista, foi se fazendo ao longo do tempo, aperfeiçoando-se nessa arte. Dalmore Shwartz (1913 – 1966), escreveu: “o tempo é a escola em que nos instruímos”, e Djalma é diplomado com menção honrosa nessa escola, merecendo, contudo, uma coifa, escolheu por tema de seus escritos os fenômenos cíclicos da natureza visto suas obras todas, serem respingadas do cheiro da terra mãe, o odor das primeiras trovoadas, o eco do aboio dos vaqueiros, o repicar da viola nas noites saudosas no copiar das fazendas, das ladainhas chorosas do passado, do repicar do sino de Senhora Santana por Benedito Caiçara, tudo isso faz um buque de lembranças que o presente não apaga. Vejamos, de relance, os títulos de suas obras plantadas no canteiro das lembranças que povoam suas noites de insônia, levando-o a escrever Festa de Santana, na Caminhada de seu sitio Gravatá, terra do escritor, ouvindo o canto do Bem-te-vi formando uma onomatopeia, nos Chuviscos de prata das primeiras trovoadas, enchendo os açudes com as Águas do gravatá, com as Chuvas passageiras, que com o sopro do vento forte a Chuva no telhado mais forte. No calor que evola da terra seca, chamando os Ventos e trovoadas deixando o lamaçal das Águas que se foram, as trovoadas puxam a Chuva miúda no sertão molhando a terra na perspectiva de bom inverno, mas quando o tempo se encarapuça, fechando-se até os astros se escondem nas noites escuras, a Lua, vento e ventania puxam pelas mangas do casacão da noite o Mormaço, calor e chuva amenizando o Calor do sertão.
Passeei pela leitura toda do cronista Djalma de Melo Carvalho, citando os nomes de suas obras que já me chegaram às mãos, e até o último livro, o escritor publicou um trecho dos meus pobres escritos, obrigado caro confrade, por tamanha gentileza.
Ler os escritos desse renomado homem das letras, é passear de braços com o passado e de mãos dadas com o presente na perspectiva do futuro, escreveu Pitágoras (580 a.C. – 497 a.C.) “não digas pouco com muitas palavras, mas muito em poucas” e você Djalma, consegue escrever muito em pouco espaço habilidade de raros escritores, porque você é um artífice da crônica sabendo fazer com as flores do passado um ramalhete regado com as águas salobras do Ipanema, feliz não é o escritor que escreve para si, mas para a alegria do povo, em Espumas Flutuantes, Castro Alves (1847 – 1871) escreveu: “...oh! bendito o que semeia livros... livros à mão cheia... e manda o povo pensar! O livro caído n’alma é germe que faz a palma, e chuva que faz o mar”.

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