FLORES NA SECA
Antonio Machado
Dizem que a natureza vilipendiada pelo homem, vinga-se dando-lhe flores. É publico e notório que no sertão de Alagoas, abrangendo cerca de mais de trinta municípios, estão vivenciando mais uma seca histórica, a seca de 2012, terra árida, inóspita, onde as chuvas escassas, geram situações calamitosas, provocando o êxodo rural, desagregando as famílias sertanejas, tecla que sempre bato. Se não tem chuva, as árvores secam e morre, porém a natureza possui os seus contrastes que o homem não compreende e nem entende, Colly Flores, o poeta de poucas letras, escreveu: “a natureza tem seus mistérios/ que os homens não compreendem/ uns não querem entender/ outros querem, e não entendem”. Com toda essa seca que campeia, quando o sol parece uma bola de fogo, caindo na boca do poente, fazendo evolar da terra seca, o calor escaldante, mas eis que, em meio a tudo isto, vê-se nas beiras dos riachos os frondosos pés de Caraibeiras cheios de flores de conotação amarela, de igual modo os pés de paus d´arco todos florados, com uma predominância da cor roxa, contrastando com o amarelo ouro, que adorna as franjas das serras, sendo as únicas flores na seca, onde as poucas abelhas que ainda resistem a intempérie da seca, sugam o néctar, levando-o para sua colmeia.
Ah! Prezado leitor, este é o sertão de carne e osso, vivido pelo sertanejo, esse homem aclimatado as agruras de sua terra, tão calcinada por uma seca sem precedentes, como a lhe assustar numa terra tão hostil, numa vivência tão desigual para criar sua família, mas ele é forte e destemido, acredita que tudo passa e essa situação agravante, também vai passar. As noites límpidas e mornas, que compõem a beleza sertaneja, mormente quando nos espaços celestes, a lua prateada asperge seus raios sobre as pedras lisas das serras, e faz brilhar nas palhas verdes dos ouricurizeiros, e no campo deserto e seco, no compasso dolente do vento sorrateiro, os pés de algodão seda, parecem almas penadas vagando a esmo, em cima dos lageiros, os pés de alastrados, crescem formando em seus galhos, verdadeiros candelabros da natureza, onde são colocados as flores que o sertão manda, para amenizar a situação reinante, trazendo um pouco de alegria ao sertanejo, homem firme e forte, que não se dobra ao sacrifício, mas o enfrenta com bravura e heroísmo, haja vista ser seu bem maior a união de sua família. Quem se aventurar a passar no sertão neste período de final de ano, irá se deslumbrar com as cores vivas brotadas numa terra seca, porque três espécies de árvores sertanejas parecem ignorar tudo, são a Caraibeira, Pau d´Arco e o Mulungú, sendo esse de flores vermelhas, todas formam o grande florilégio da natureza, as flores na seca, quando as demais árvores sentem suas consequências, aquelas parecem indiferentes e a situação reinante e continuavam mesmo com o sol causticante do dia a dia, não se dobram e nem se deixam abater pelos carunchos da vida, como escreveu Graciliano Ramos em Vidas Secas, o sol vai tangendo o homem de sua terra, mas vai na frente dele.
É este sertão sofrido, porém bonito, que, quando o poeta empunha a viola, canta melhor que ninguém, suas belezas, como escreveu o maior deles, Leandro Gomes de Barros (1868-1918), “hei de cantar as belezas/ daquela terra encantada/ só digo o que ela tiver/ não quero exagerar nada/ a natureza lhe deu nome/ de jardim de fada”.
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