A SECA MATOU A SAFRA
Antonio Machado
O trabalho honesto dignifica o homem, afastando-o da necessidade e a ociosidade, fazendo-o elemento essencial e útil a sociedade. O sertanejo é esse elemento trabalhador levando os estudiosos e os “sertólogos” a exclamarem que o melhor do sertão, é o sertanejo. Sertão significa terra seca, árida onde o sol parece ser mais abrasador e forte, as secas periódicas são constantes, constituído-se uma área de terra, onde a seca é o referencial. A origem da palavra sertão parece se perder nos interstícios da história, podemos citar que na Carta de Doação da Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho, datada de 10 de março de 1534, ele cita textualmente o vocábulo “sertão”. Em termos de Alagoas, o sertão constitui uma área de 8.633,10 Km2, globalizando uma população de 432.667 habitantes (senso 2010), com uma abrangência de 26 municípios agrupadas em quatro microrregiões. A pluviometricidade sertaneja é baixa, em sendo o sertão uma região extremamente seca, visto estar incrustada no polígono da seca, vem sofrendo um desmatamento tamanho, levando ainda mais o aumento da escassez de chuva na região, e sua época invernosa está centrada nos meses de abril fechando o ciclo no dia 21 de setembro, visto ser uma área tipicamente agrícola. Pois é da terra molhada ou seca onde o agricultor joga suas esperanças nas sementes na terra, que quando ocorre um inverno bom, com chuvas constantes, a safra vem em abundancia, enchendo a barriga do sertanejo e de sua família seu bem maior, porém quando as chuvas são escassas, o porque nem cria a lavoura e nem deixa água tanto para o homem quanto para o gado. E este ano de 2012, a seca matou a safra do sertanejo, deixando-lhe numa situação calamitosa de fome e sede. O inverno concluiu, deixando a necessidade instalada na casa do sertanejo, sem ter prazo para sair, o que lhe é mais triste, e deplorável. E quando a seca se abate no sertão as necessidades tornam-se maiores e mais agudas, levando o sertanejo se valer tão e somente das famigeradas bolsas do governo Federal, que torna o cidadão viciado a não fazer nada, como a se iludir com essas migalhas, que apenas aliciam as pessoas, tornando-as subservientes na conquista do voto, para se manterem no poder, isto não é democracia, mas “aliciocracia” ( o neologismo é do articulista). Quando democracia deve ser dignidade ao povo, ao sertanejo, que está cansado de esmolas e de pacotes mal enrolados, e quem sai embrulhado, é o povo.
A seca matou a safra no sertão, e agora? Simplesmente, o governo já está arrolando os agricultores para receberem “as benesses” da seca, e já vem por ai a “bolsinha carinhosa”, não sei qual será a próxima bolsa para colocar os sertanejos.
Dignidade é se ter saúde boa, dignidade é se ter escola de qualidade para o povo, não é enganar o sertanejo com bagaço de cana e lhe colocando água para ele beber numa cisterna de plástico para atender as imposições das multinacionais, dignidade é se concluir um nível superior e se ter trabalho, vive-se num pais onde o cidadão com quarenta anos de idade já é velho, não encontra mais trabalho, vai esperar uma mísera aposentadoria aos sessenta anos, para viver, ou melhor vegetar montado num salário mínimo, que enquanto ele for mínimo nunca será máximo, mas vejam o bel ordenado dos deputados e os apniguados de governo, enquanto os professores, que ensinam a todos, vivem numa luta constante e titânica para receberem aquilo que tem direito. Isto é Brasil, isto é o sertão de ontem, que é o mesmo de hoje. Faze-me até lembrar de uma estrofe de Colly Flores, o poeta sem métrica, quando escreveu: “êita sertão bonito/ onde as belezas se expandem/ das noites escuras sem lua/ dos candeeiros feitos flandres/ dos homens trabalhadores/ e as mulheres tem tudo grande”. Este é o Brasil que tem nordeste, e um nordeste que tem sertão, e um sertão que tem seca, e uma seca que mata a safra.
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